Falar sobre a dignidade humana é tema que sempre possui atualidade. Seja, então, nesta manhã fria de inverno, para aquecer os nossos corações e ações, as palavras de um texto publicado no jornal O Correio do Estado de Campo Grande, MS, aos 01/10/1999. O meu carinho e homenagem ao querido professor e mestre Luiz Feracine!!
A dignidade humana
1. Findaremos este século adentrando o próximo milênio sob o signo da comemoração do cinquentenário da Declaração Internacional dos Direitos Humanos. Todavia, contraditoriamente, ainda defrontamo-nos com episódios que maculam a dignidade de milhões de seres humanos. Parece que não basta apregoar os Direitos Humanos, mas faz-se necessário alicerçar tais conceitos na única dimensão que lhe assegura consistência e credibilidade, a saber, a natureza racional e livre da pessoa humana.
2. Sob esse enfoque, festivamente, tomamos conhecimento da segunda edição do precioso opúsculo intitulado “A Dignidade do Homem” da autoria de Giovanni Picco, Conde de Mirândola e de Concórdia, editado pela Sólivros desta capital. À beleza estrutural e conceitual do texto unem-se a riqueza e a perfeição estilística da tradução e das notas feitas por Luiz Feracine.
3. O tradutor,o filósofo do Pantanal como é denominado, quando do prefácio da segunda edição, aponta como causa das guerras e da miséria humana a raiz anti-filosófica que culmina na ignorância do significado autêntico acerca da dignidade humana. É por isso que o homem, hoje, vive espezinhado. Aliás, para a nossa época tem sentido a frase de Heidegger: “Época nenhuma soube menos o que é o homem do que a atual”. Isso não obstante, os tempos de hoje são especialistas na oratória a respeito de tais direitos. É a tal retórica da saliva.
4. Eis porque e em boa hora, encontramos em Picco, protótipo do jovem humanista e intelectual de sua época, o conteúdo antropológico que desde 1496 vem servindo de base para fundamentar os Direitos Humanos. Oficialmente, o livro “A Dignidade do Homem” é considerado o primeiro texto de antropologia filosófica do Ocidente. A originalidade do estudo de Picco consiste em alicerçar o conceito de dignidade na liberdade que enobrece o ser humano.
5. Sob esse aspecto, em lance de extrema beleza literária e profundidade filosófica, seja a passagem em que “a fênix dos gênios”, focaliza a liberdade como tema central para explicar o ser humano qual obra inacabada mas perfectível: “Não te fizemos nem celeste nem terreno, mortal ou imortal, de modo que assim, tu, por ti mesmo, qual modelador e escultor da própria imagem, segundo tua preferência e, por conseguinte, para tua glória, possas retratar a forma que gostarias de ostentar. Poderás descer ao nível dos seres baixos e embrutecidos; poderás, ao invés, por livre escolha da tua alma, subir aos patamares superiores, que são divinos” (in “A Dignidade do Homem”, págs. 53 e 54). Portanto, no exercício da sua liberdade, o homem decide sobre si e sua forma definitiva. Nesse sentido ele é causa de si mesmo, porém a título de criatura e de causa segunda.
6. Em sua abrangência precoce do saber, Picco, de sólida formação religiosa, soube ser um estudioso e cientista sem descurar a visão da transcendência. Ele era um pensador de profunda fé teológica e bíblica. Aliás, a sua percepção de ser humano está calcada na antropologia religiosa tal como foi explicitada pelo Magistério Oficial da Igreja no texto da constituição conciliar: “Gaudium et Spes”. Naquelas páginas, tratando do valor da pessoa humana, indicam-se os motivos mais remotos da sua dignidade e superioridade relativamente ao resto da criação.
7. Evidente que, ao destacar a dignidade do homem em nosso meio cultural, o ilustre professor da Uniderp e da Unaes, objetiva realçar uma instância suprema que ultrapassa de muito a precariedade de embasamentos feitos de mera positividade. Afinal, os “homens das ditaduras” eram todos figurados como modelos do positivismo jurídico de suas épocas. E quem teria, hoje, a coragem de engrandecer as tristes imagens que fizeram a grandeza marcial do cidadão sob os regimes de Hitler, Mussolini, Lênin e Stálin, Franco, Salazar e da ditadura militar brasileira?! Todos eles só criaram caricaturas da autêntica “dignidade humana”.
Portanto, ao alicerçar o conceito de dignidade na natureza racional e livre do homem, estamos mais do que declarando ou positivando os Direitos Humanos. Estaremos sim operacionalizando, concretamente, a efetivação dos mesmos, lançando mão das condições conceituais impostergáveis que nos predispõem favoravelmente para a erradicação de todo tipo de miséria humana.
8. Conclusão. Ocorre, aqui, uma frase do jusfilósofo alemão R. Spaemann (in “Lo Natural y lo Racional”, trad. Espanhola, Madrid, 1989): “A dignidade do homem é inviolável. Eis aí um conceito que pode ser tido como o direito humano em geral” (pág. 90). E mais na frente Spaemann acrescenta: “A idéia de dignidade humana encontra seu fundamento teórico e sua inviolabilidade em uma antologia metafísica, vale dizer, em uma filosofia do absoluto. A presença da idéia do absoluto numa sociedade é condição necessária para que seja reconhecida a incondicionalidade da dignidade do homem” (pág. 93). É como ensinava Kant: “O homem é um fim em si e nunca meio nas mãos de outros nem do poder”. Por sua vez, Miguel Reale repete: “O homem é o valor fundante de todos os valores”.
Um lindo e importante artigo de Ferracine sobre esse tema tão necessároo:Dignidade...beijos,chica
ResponderExcluirMuito lindo Susiley!!! Pena que, na vida real, o principio fundante da nossa Constituição seja palavra morta na lei e no processo, pois o artigo 5º que garantiria esses mesmos direitos, é o mais desrespeitado. E por quem? Pelos poderes públicos que valem-se da "retórica da saliva" para obnubilar os princípios constitucionais que garantem a dignidade humana. É de chorar!
ResponderExcluirParabéns pelo post, muito oportuno esse texto, sempre atual. Bjssssss
Oi Suziley,
ResponderExcluirnas andanças na blogsfera encontrei "A are das letras", adorei!
Adorei o texto!
bjs
Suziley, muito importante o texto publicado.
ResponderExcluirSem contar que nele mesmo trz o lindo tom de poesia.
E a parabenizo, pois divulga assunto importante;
Sempre né?? rsrs
Beijos linda!
Impoetante lembrar, mas como tudo neste país não ligam para dignidade, paz.
ResponderExcluirBeijo Lisette
Suziley,
ResponderExcluirParabéns pela postagem. Abraço/ney.
Uma bela postagem amiga.
ResponderExcluirbeijooo.
Oi Suzy! Uma aula, sem dúvida nenhuma. Somos responsáveis pela nossa própria dignidade - ainda carregamos a responsabilidade de sermos filhos do Pai! Obrigada por trazer um texto tão rico para a nossa reflexão! Um beijo, Deia.
ResponderExcluirDignidade é tudo, mesmo. Obrigada pelo seu comentário Chica. O texto é de minha autoria comentando o pequeno livro "A dignidade humana" de Pico della Mirandola, que foi traduzido pelo professor e mestre Luiz Feracine. Um belísimo trabalho, uma obra necessária pois toca na dignidade do ser humano. Obrigada mais uma vez. Beijos no seu coração ;)
ResponderExcluirÉ verdade, Marli. É por isso que não basta apenas positivar os direitos. Precisamos de muito mais. Afinal, a Justiça enquanto valor deve ser buscada sempre, seja por aqueles que trabalham nas lides forenses, seja por todos os cidadãos. Pois, dignidade real é que queremos para todas as pessoas sem distinção. Um grande beijo no seu coração ;)
ResponderExcluirOi, Valdecy:
ResponderExcluirA questão da educação é muito importante. Depois, vou passar, lá, no seu blog para ler, ok?!! Obrigada pela visita. Um grande abraço ;)
Oi, Albuq:
ResponderExcluirQue bom que gostou daqui. Seja bem-vinda! Uma boa semana para você, beijos no seu coração ;)
Oi, Hamilton:
ResponderExcluirRealmente, é um tema sempre atual e importante. A dignidade humana. Obrigada pelo carinho e pela amizade querido amigo. Boa noite, beijos ;)
Infelizmente, não mesmo Lisette. Mas não vamos deixar de acreditar e lutar por mais dignidade, não é?!! Assim como você, brava e lindamente, faz. Dignidade e paz no trânsito. Parabéns!!! Beijos no seu coração ;)
ResponderExcluirObrigada querido Ney! Abraço ;)
ResponderExcluirObrigada Ana, uma boa semana para você, beijos ;)
ResponderExcluirOi, Deia:
ResponderExcluirO pequeno livro, de fato, é uma riqueza. Por isso fiz este texto. Por isso quis publicá-lo para divulgar, também, o belíssimo trabalho de tradução de Luiz Feracine. O tema será sempre atual. Dignidade para todos!! Boa noite, beijos para você e suas lindas filhas!! ;)
Meus parabéns amiga pelo teu blog. Um feliz São joão pra vc e familia. Um abraço de Manoel Limoeiro de Recife - PE
ResponderExcluirOi, Manoel do Limoeiro:
ResponderExcluirQue boa visita a sua. Bem-vindo querido amigo!! A luta, aí, continua, não é?!! Isso mesmo, você é um lindo exemplo daquele que acredita e faz! Luta por dignidade das pessoas da sua comunidade, parabéns!! Boas festas juninas para você e sua família também!! Vai, daqui, um grande abraço, de coração ;)