sábado, 22 de agosto de 2009

Dia 23 na consulta popular diga NÃO ao Pontal




Seja estuário, seja lago ou simplismente rio, não permitam que também roubem este patrimônio público que é o Guaíba. Amanhã, dia 23/08/09, participe da consulta popular e diga NÃO a mais esta agressão ao bem comum, à natureza e ao próprio ser humano enquanto integrante do meio ambiente e responsável pela vida neste planeta!
Acesse:




Dia do folclore



O folclore constitui o conjunto das tradições, das lendas, dos mitos, das crenças de um povo. Traduz o seu modo de ser nas vestimentas, na religiosidade, na culinária, na dança, na música. Quem já não ouviu as estórias do Curupira, do Boi-tatá, do Saci, do Negrinho do Pastoreio, do Lobisomem. As danças do Maracatu, a Katira, o Boi-bumbá. As festas populares. Quem quando criança não se lembra das parlendas: "Batatinha quando nasce, se esparrama pelo chão, moreninha quanto deita, põe a mão no coração"; "O cravo brigou com a rosa, debaixo de uma sacada, o cravo saiu ferido e a rosa despetalada" e tantas outras. Comidas típicas: arroz carreteiro, vatapá, leitão a pururuca, churrasco, peixe a urucum. Nas rodas de amigos o chimarrão. Em outras bandas, o tereré. As "cucas" alemãs, o romeu e julieta, arroz doce, rapadura de cana, chimia ou geléia de amora. Ah, esse nosso Brasil, tão vilipendiado pelos ditos "representantes da democracia", continua, aí, rico em matéria humana, rico em suas várias formas de ser, rico na alma e no coração de seu povo, de norte a sul, de leste a oeste!!


Sorria - Sapinho Alegre

Sorria - Sapinho Alegre

sábado, 8 de agosto de 2009

Dia dos Pais





























































































Pai é assim....a imagem e semelhança da ternura e da proteção divina!! FELIZ DIA DOS PAIS!! Um grande abraço e beijo ao meu "papi" Antônio!!!































































quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Revolução Acreana








































Em 06 de agosto de 1902, um militar gaúcho chamado José Plácido de Castro, foi enviado ao Acre pelo Governador Silvério Néri e iniciou a então denominada "Revolução Acreana" que culminou com a anexação definitiva daquela área ao Brasil. O Acre de Galvez a Chico Mendes e tantos outros. Salve o Acre!!!







































Cuidado com a gripe suína...




06/08/1945 Rosa de Hiroshima















"Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa, da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor, sem perfume
Sem rosa, sem nada".
(Vinícius de Moraes e Gerson Conrad).



Hiroshima nunca mais!!!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Patrimônio histórico: Paróquia NSrª da Imaculada Conceição, Porto Alegre,RS




































Paróquia NSrª Imaculada Conceição, Porto Alegre/RS. Com a feliz coincidência, pois estudei por vários anos no Colégio Imaculada Conceição (o "Genic"), escola administrada pelas freiras salesianas, em Corumbá/MS, visitei a Igreja Imaculada Conceição situada na avenida Independência ao lado do Hospital Beneficência Portuguesa. É uma igreja encantadora. Acolhedora. Estilo barroco e neoclássico. Igreja mais que centenária. Vamos ajudar a preservar mais este monumento histórico deste Estado. Para tal, a Igreja promove no dia 12/08/2009, das 15h às 19h30min, no valor individual de R$ 20,00, o "Café Colonial". Vamos participar! Afinal, a arte, a histórica e a memória desta Capital agradecem!!

domingo, 2 de agosto de 2009

Dodô a espera de uma adoção...





















Sou um pequeno cão vira-latas. Um cão sem lenço, sem dono. Nunca tive um lar bem quentinho. Minha casa era a rua. Fui atropelado - ai, ai, como doeu - então, precisei ser operado. Vivo da caridade de almas bondosas. Umas "tias" que o Pai Criador colocou em meu caminho. Estou hospedado na "Cia do Bixo" (fones.: (051) 3019-5149; 3062-5147). Fui levado para lá pela tia Denise Bastos (fone.: (051) 9112-2547). Consegui a operação, os remédios e a hospedagem por alguns dias. Todavia, preciso, urgentemente, encontrar um lar definitivo. Afinal, a conta irá crescer...Não entendo de dinheiro. Não possuo pedigree. Não sou campeão de Kennel Club ou coisa parecida. Mas sou meigo e dócil. Percebo que as pessoas sofrem. O inverno é rigoroso. A pobreza e a miséria está em volta. Muitas pessoas também precisam de ajuda. Entretanto, acredito que não darei nenhum trabalho nem muito gasto. Só peço uma oportunidade de fazer as pessoas felizes. Serei um amigo fiel, leal e dovotado por toda a minha vida! Até a morte! Dê-me essa chance!! Tenho certeza que não se arrependerá!!! Obrigado. Que São Francisco e São Roque os abençõe!! Dodô.















Amizade e Arte

* Suziley dos Santos da Silva

Arte na França. 1860-1960: O Realismo. Um século de pintura na França. Estava, ali, diante de nossos olhos com todos aqueles nomes que um dia ouvimos falar em aulas de estética ou coisa parecida. Manet, Van Gogh, Renoir, Coubert, Picasso, Cézanne, Goya, Velázquez, Matisse, Dalí, Munch, Di Cavalcanti, Iberê Camargo, Aldo Locatelli e tantos outros pintores...nacionais e internacionais que viveram o período do Realismo daquela cidade luz.
“Les Demoiselles Cahen d'Anvers", as meninas de rosa e azul, para mim o mais belo de Renoir... Arte na França, arte na praça, arte no museu, arte no Margs. Estava lotado e veja que era domingo de centenário do GRE-NAL! Parabéns aos que sucubiram ao desejo de mais conhecimento, de mais cultura. Não vai, aqui, nenhum ranço preconceituoso contra o futebol que também é fenômeno, indubitavelmente, popular e genuíno. E qual brasileiro não o é? Sobretudo, aqui, em terras gaúchas, onde tal manifestação cultural assinala-se, também, pela bipolaridade futebolística entre Grêmio e Internacional. Em que pese o coração vermelho, parabéns aos azuis pela vitória de uma batalha! Mas, ainda não venceram a guerra. Entretanto, ali, no Margs, por apenas um quilo de alimento não perecível podemos contribuir com os menos favorecidos. E por consequência, alimentamos, também, o nosso espírito com o admirar de tantas obras da pintura realista. O realismo nas artes, seja na literatura, na música, na pintura, foi um movimento marcado por representações objetivas, naturalistas. Arte racional, “pés no chão”. “A vida como ela é”, diria Rubem Braga, o “Sabiá da Crônica” como era denominado por seu amigo Stanislaw Ponte Preta.
Entre amigos e perante às diversas telas daquela exposição percebi a figura companheira de algum cão. É isso mesmo. O cão também foi pintado pelos maiorais na arte da pintura. Agora, tento recordar o belíssimo quadro pintado retratando a miséria de um lar em que um cão deixa ao seu dono o último pedaço de pão que possuíam. Uma cena, realmente, tocante. Tal imagem levou-me a refletir sobre o que havia ouvido de um diálogo entre dois jovens namorados, noivos ou esposos, enquanto esperava meu marido que havia entrado na Panvel. Ali, à espera, num dos bancos do Shopping Iguatemi, o rapaz declinava à moça os prós e os contra de adotarem um cão. Fato é que nesta nossa jornada existencial não nos privamos da companhia de algum bicho de estimação. Eles estão sempre, ali, a postos, devotados e fiéis aos seus donos. Verdadeiros “anjos da guarda” e por vezes heróis anônimos. Amizade verdadeira. Como real foi a conquista do homem que aos 20 de julho de 1969 pisou o solo lunar. E para comemorar aquela data, como uma oportunidade de fazer novas amizades em outras partes do universo, o argentino Enrique Ernesto Febbraro, difundiu pelo mundo a fora seu lema: “Meu amigo é meu mestre, meu discípulo e meu companheiro”.
Celebramos, nesta semana, o dia do amigo. Amigo e pintura tem tudo a ver. O amigo é o pintor que retrata a imagem do que realmente somos. Pinta as nossas nuances, por vezes, escapam para uma imagem mais impressionista, mais abstrata. Por vezes, o cubismo é o que dá o tom. Mas, enfim, são imagens pintadas com as tintas da verdadeira amizade. O amigo usa o pincel do coração mesmo quando se torna ácido em alguma crítica. Mas, enfim, é o nosso guardião, nosso porto seguro. De fato, o mundo não está totalmente perdido, pois restam os amigos, restam as artes. Há sempre uma esperança em dias melhores. Afinal, já dizia o Nazareno: “Não há maior amor do que aquele que dá a vida por seu irmão”! Então, vamos lá. Amar custa tão pouco. Quase nada. Apenas um quilo de alimento não perecível para o Margs até o dia 30 de agosto. E o cãozinho? Adote um. Há muitos necessitando de um lar que lhes dê alimento material e amor incondicional. Amor incondicional, igual aquele dado pela cocker Florinha à família do escritor Rubem Alves. Vamos lá.

* Analista Judiciária do TRE/MS, com lotação provisória no TRE/RS.

Porto Alegre, RS, 23 de julho de 2009.

Em Porto Alegre...

O voo da gaivota

* Suziley dos Santos da Silva
Perto de completar um ano na "valorosa e leal" capital dos pampas, mesmo com meus afazeres profissionais e domésticos, decidi alçar voo no ofício de escrever compromissada unicamente com minha consciência e com a verdade. Foi, então, que numa dessas leituras matinais do jornal Correio do Povo, encontrei o anúncio da presente Oficina de Crônicas, ministrada pelo veterano jornalista/escritor, Walter Galvani, sobre quem pude tomar conhecimento no precioso livro "O prazer de ler jornal - Da acta dia ao blog", editada pela Universidade do Vale dos Sinos de São Leopoldo. Realmente, escrever bem é uma arte. E que prazer sentimos ao ler uma notícia bem escrita, um verso bem elaborado, uma crônica bem trabalhada. E foi em busca da excelência no ofício de cronista, na arte de bem escrever que iniciei tal oficina. À guisa de um primeiro contato com uma turma tão seleta, defrontei-me com a descoberta de novas preciosidades. Ouvir o mestre, educador que traz em linguagem acolhedora a sua experiência de vários anos como jornalista e escritor; perceber a sabedoria na sua partilha de conhecimentos; realizar a leitura do livro "Crônica: o voo das palavras". Logo, então, constatei que havia chegado ao lugar que sempre havia procurado. Fiquei feliz.
Felicidade autêntica, que ao ouvir a metáfora do voo da gaivota escrita por Walter Galvani, logo veio em minha lembrança a figura de um outro escritor americano (já que também estamos numa das Américas) Richard Bach com seu inesquecível personagem Fernão Capelo Gaivota. Richard Bach é nascido em 23 de junho de 1936, no Estado de Illinois, EUA. Técnico em aviação, piloto experiente, voar para ele sempre foi o seu caminho na busca da verdade. O próprio personagem Fernão Capelo Gaivota não se contentava apenas em voar. Queria muito mais. Desejava ultrapassar o próprio voo. Aprender tudo sobre aquela arte a fim de partilhar com seus iguais os novos conhecimentos. Procurava ser cada vez melhor, assentando suas ações no amor e na compreensão do outro. Fernão Capelo Gaivota, no início, não foi compreendido pelo seu grupo. Foi expulso para longe. Mas, enfim, havia encontrado outras gaivotas que pensavam como ele e que o ensinaram a superar os seus próprios limites. E mesmo rejeitado, Fernão retorna ao seu grupo para compartilhar o que havia assimilado. Eis, aí, a sua lição de vida, o seu exemplo de amor ao próximo.
Enfim, traçando um paralelo entre os dois escritores visualizamos possuirem as seguintes semelhanças, a saber, serem da mesma geração, escritores talentosos, profissionais experientes, americanos (um norte, outro latino), utilizarem a metáfora do voo da gaivota para realizarem com encanto e deslumbramento a arte do bem escrever. Apesar de que Walter Galvani em seu livro específico para tal oficina trata da crônica e Richard Bach traz à vida Fernão Capelo Gaivota num romance escrito como uma parábola moderna. Todavia, em que pese tal diferença, ambos constituem "gaivotas" de primeira grandeza na arte do voo das palavras. Ambos buscam o seu alimento em seus voos certeiros. Ambos são "gaivotas" que inspiram a idéia de liberdade infinita em nosso ser de eternos aprendizes na arte da escrita. Estou aqui. Parafraseando, em trocadilho, o grande general romano, Júlio César, "Vim, vi, cheguei". Vim aprender o voo a gaivota, da gaivota semelhante aquele Fernão Capelo. Assim escrevo. Assim espero.
* Analista Judiciária do TRE/MS, em lotação provisória no TRE/RS.
Porto Alegre, RS, 18 de junho de 2009.
Fé ou razão?

* Suziley dos Santos da Silva


Quase na virada do milênio, ainda há quem faz ecoar, em sala de aula, os preconceitos do neopositivismo vienense, na tentativa de passar para os acadêmicos as idéias de conflito entre a crença religiosa e a racionalidade. A fria receptividade por parte do auditório nem de longe toca a insensibilidade de tais locutores. Nem por isso deixa de causar perplexidade esse apelo à ruptura com a herança cultural que ainda compõe, de modo harmônico, a fé com as demais decorrências da razão. De uma fonte ou de outra, no entanto, fato é que dúvidas aparecem a respeito. De repente, o céu fica obscuro e a mente, até então tranquila, agita-se em questionamento angustiante.

1. Eis porque, em boa hora, o professor de filosofia da Uniderp informou seu alunos sobre a existência de um documento oficial da Igreja Católica intitulado a “Fé e Razão” (“Fides et Ratio”). É a última Carta Encíclica endereçada pelo Papa João Paulo II ao mundo pensante. Ali o pontífice aborda, no exercício do seu magistério universal, o tema delicadíssimo da relação entre credo religioso e racionalidade. Oferece sua contribuição para solucionar o problema da possível incompatibilidade entre conhecimento racional e fé.

2. O documento, aliás, de fácil leitura e entendimento, aborda, em cheio, um tema de máximo interesse na área educacional. E o Papa está bem categorizado. Além de ter cursado Filosofia na Universidade “Angelicum” de Roma e defendido tese de doutoramento na mesma, João Paulo II tem a assessoria de consultores de elevado gabarito, todos eles eminentes cultores da Filosofia em numerosas faculdades européias. Trata-se, portanto, de um documento sólido e respeitável a qualquer título.

3. Há um ano atrás, o Vaticano deslumbrou o mundo da cultura com a Encíclica “O Esplendor da Verdade”. O texto fala da paixão natural do ser humano pela verdade. Qualifica-o qual perquiridor indomável da verdade em todas as suas dimensões. E já aponta a Filosofia como o caminho para o encontro entre a razão humana e sua plenitude operacional de conviver com a verdade e na verdade. Curioso observar que o eminente filósofo do Direito no Brasil, Miguel Reale, parece ter antecipado à Encíclica do Papa, ao escrever: “A filosofia reflete no mais alto grau essa paixão da verdade, o amor pela verdade que se quer conhecido sempre com maior perfeição, tendo-se em mira os pressupostos últimos daquilo que se sabe” (in “Filosofia do Direito”, 17ª edição, Editora Saraiva, 1996, pág. 05).

4. Agora, o Papa revela um percalço que atrapalha a caminhada da mente humana na busca constante da verdade. Pois há quem diga haver incompatibilidade entre a verdade religiosa e a razão. A fim de ajudar na superação de tal dúvida, o texto da nova Encíclica apresenta argumentos valiosos. Eis a sua prestância.

5. A título de mera exemplificação, cabe citar um dos lances marcantes da nova Encíclica. É o momento em que a filosofia é caracterizada como “ciência do universal”. Aliás, uma definição prestigiada por Miguel Reale. E como universal a filosofia não tem barreiras para a investigação. Também a religião entra no seu âmbito de questionamento. Justamente por se ter reduzido a filosofia a funções marginais como a tal de filosofia da linguagem, é que a filosofia perdeu credibilidade. Preteriu o estudo profundo dos pressupostos e esqueceu de questionar até mesmo a fé. Resultado? A religião virou “área de sentimentalismo e de folclore”.

6. Mas não seria “perigoso” filosofar sobre a fé? Não. A fé, dado ser ela autêntica revelação da sabedoria divina, não teme a filosofia. Deus não tem medo da inteligência humana. Aliás, foi ele que fez o homem inteligente a fim de encontrá-lo no esplendor da verdade.
De outro lado, o sistema religioso que não resiste ao questionamento filosófico, padece de qualquer deficiência veritativa. E por isso carece de credibilidade.
Bem a propósito, décadas atrás, o imortal Jacques Maritain escrevia: “A razão e a fé, embora distintas, não estão separadas” (in “Introdução Geral à Filosofia”, 16ª edição, Ed. Agir, 1989, pág. 15).
Por sua vez, o Papa declara: “A fé não contraria a razão. Ambas estão numa relação de interdependência mútua”.
Conclusão. Quando Agostinho de Hipona tateava na brumas das incertezas existenciais, apareceu um anjo que lhe disse: “Tolle et lege” (apontando para o livro da Bíblia). Agostinho pegou, leu e transmudou-se no gênio do cristianismo. Hoje, diria ao leitor emaranhado no miasma de dúvidas dilacerantes: “Tolle et lege”. Pega a Encíclica. Leia e, por certo, terás outro entendimento a respeito da Filosofia e do teu sistema religioso.

Advogada trabalhista e aluna do curso de Magistratura.

Artigo escrito aos 12 de março de 1999 em Campo Grande/MS.

Texto já escrito

A nova universidade

* Suziley dos Santos da Silva


A Constituição Federal traz como uma das garantias fundamentais: a “inviolabilidade da liberdade de consciência e de crença...” (art. 5, VI). Vivemos num Estado Democrático de Direito. E a sua razão de ser parece óbvia. O Estado Moderno caracteriza-se pela laicização dos seus componentes sem atrelamento a qualquer confissão religiosa. E é bem nesse universo pluralista e não-sacro que se situa a Universidade Católica. Ocorre então ao leitor a seguinte indagação: será que a Universidade Católica está sendo coerente com suas características essenciais e com o novo papel que deve desempenhar dentro desse contexto laical e pluralista da atualidade?

1. Ocorre, preliminarmente, recordar que uma Universidade para identificar-se como católica, deve ostentar alguns traços peculiares. São aquelas características explicitadas por João Paulo II no documento “Constituição Apostólica sobre as Universidades Católicas”. Ali, o Pontífice destaca os elementos que constituem a autêntica Universidade Católica. Tal documento já foi objeto de análise por parte de especialista na área cujos artigos foram publicados neste matutino. Todavia, nada ocioso e até necessário, vez por outra, reler o referido documento, já que o mesmo nada perdeu de sua atualidade.

2. Eis então que o Papa tem a palavra: “Uma vez que o objetivo de uma Universidade Católica é garantir, em forma institucional, uma presença cristã no mundo universitário, perante os grandes problemas da sociedade e da cultura, ela deve possuir, enquanto católica, as seguintes características essenciais:

a) uma inspiração cristã não só dos indivíduos, mas também da instituição universitária enquanto tal;
b) uma reflexão incessante, à luz da fé católica, sobre o tesouro crescente do conhecimento humano, ao qual procura dar seu contributo mediante as próprias investigações;
c)a fidelidade à mensagem cristã tal como é apresentada pela Igreja;
d) o empenho institucional ao serviço do povo de Deus e da família humana no seu itinerário rumo àquele objetivo transcendente que dá significado à vida”.

3.A fim de evitar interpretações herméticas e até mesmo apriorísticas, nada mais saudável do que delinear o alcance das expressões, aí, estampadas. A primeira característica revela o elemento “inspiração cristã”. Tal nota essencial está a dizer do próprio espírito da instituição. Aquilo que dá tonalidade geral ao conjunto. Dir-se-ia, a mentalidade ou fisionomia. Porém, não se deve confundir mentalidade com pieguices devocionais. A Universidade não é católica porque tem missas semanais ou porque ali há espaço para alguma pastoral ou ainda porque, em seu currículo, figura certa disciplina teológica. Atente-se bem para o sentido da “inspiração cristã”. “Inspiração critã” está a dizer dos traços que revelam todo um estilo de ser e de agir. Por isso, de acordo com ela, a Universidade pode ser espiritualista ou materialista; confessional ou aconfessional; agnóstica ou voltada para os valores transcendentes; atéia ou teísta; fechada ou ecumênica; alheia ao social ou engajada; fábrica de diplomas ou agenciadora de personalidades comprometidas com um tipo humanístico ou ético da civilização.

4. Quanto à segunda característica, a Universidade pode limitar-se à produção de conhecimentos atualizados como também pode ir além e confrontar as conquistas do saber profano com as informações sólidas de timbre religioso. A Universidade sendo Católica, cuida da sintonia do saber humano com os critérios da sabedoria acrisolada pelo magistério da Igreja. Quantas perspectivas não se abririam se os acadêmicos das áreas jurídica, administrativa e contábil conhecessem melhor os ensinamentos das Encíclicas Sociais!

5. A terceira característica mexe com o topete da presunção. O homem sonha ser rei e deus, diz o profeta Ezequiel. Também as corporações religiosas sofrem igual tentação. E, aqui, o Papa dá a resposta e o remédio para curar a embriaguez do poder: “a fidelidade à mensagem cristã...”. Eis, aí, a espiritualidade que deve marcar a Universidade Católica antes de qualquer espiritualidade corporativista. Afinal de contas, Universidade reflete a dimensão de “catolicidade”, ou seja, “Universalidade”.

6. Por fim, a quarta característica. Ela enfatiza o serviço ao povo. A principiar pelos mais próximos, os funcionários, professores e acadêmicos. Se a Universidade Católica fosse empresa à guisa de outras similares, então o serviço prestado teria o retorno aferido pelo lucro. Bem a propósito, escreve Michel Falise: “A tradição cultural da Universidade é a de um prestador de serviços de interesse geral e não de uma empresa que procura a melhor remuneração do capital”. Se isto vale para toda e qualquer Universidade, por foçar maior, aplica-se à Católica. Pois ela é evangélica. Por isso ela tem as leis trabalhistas apenas como instrumento subsidiário de organização. Antes de se agarrar à justiça positiva dos homens, ela lê pelo Evangelho. Eis então o magnífico exemplo que a Universidade Católica poderia oferecer ao mundo da cultura. Ela está para servir e não para servir-se de ninguém.

7. Conclusão. A julgar pelo modelo de Universidade Católica à vista de todos, parece que os seus fins institucionais realizam-se, mecanicamente, qual decorrência de algumas práticas religiosas inseridas no contexto curricular. No entanto, não é visível nenhuma preocupação evangelizadora no sentido de distinguir pela doutrina clara e pelo exemplo a Universidade Católica de outras instituições similares que não se inspiram nos Evangelhos. E seja um exemplo fragoroso. Ninguém saberia diferenciar o “espírito financeiro” de uma Universidade Católica do “espírito neoliberal” do mundo profano. No fundo todos lêem pela cartilha do materialismo econômico, comercializando o ensino. Coitado do Cristo!

Advogada trabalhista e aluna do curso de Filosofia.

Artigo escrito ao 24 de maio de 2000 em Campo Grande/MS.


A dignidade humana

*Suziley dos Santos da Silva



1. Findaremos este século adentrando o próximo milênio sob o signo da comemoração do cinquentenário da Declaração Internacional dos Direitos Humanos. Todavia, contraditoriamente, ainda defrontamo-nos com episódios que maculam a dignidade de milhões de seres humanos. Parece que não basta apregoar os Direitos Humanos, mas faz-se necessário alicerçar tais conceitos na única dimensão que lhe assegura consistência e credibilidade, a saber, a natureza racional e livre da pessoa humana.

2. Sob esse enfoque, festivamente, tomamos conhecimento da segunda edição do precioso opúsculo intitulado “A Dignidade do Homem” da autoria de Giovanni Picco, Conde de Mirândola e de Concórdia, editado pela Sólivros desta capital. À beleza estrutural e conceitual do texto unem-se a riqueza e a perfeição estilística da tradução e das notas feitas por Luiz Feracine.

3. O tradutor,o filósofo do Pantanal como é denominado, quando do prefácio da segunda edição, aponta como causa das guerras e da miséria humana a raiz anti-filosófica que culmina na ignorância do significado autêntico acerca da dignidade humana. É por isso que o homem, hoje, vive espezinhado. Aliás, para a nossa época tem sentido a frase de Heidegger: “Época nenhuma soube menos o que é o homem do que a atual”. Isso não obstante, os tempos de hoje são especialistas na oratória a respeito de tais direitos. É a tal retórica da saliva.

4. Eis porque e em boa hora, encontramos em Picco, protótipo do jovem humanista e intelectual de sua época, o conteúdo antropológico que desde 1496 vem servindo de base para fundamentar os Direitos Humanos. Oficialmente, o livro “A Dignidade do Homem” é considerado o primeiro texto de antropologia filosófica do Ocidente. A originalidade do estudo de Picco consiste em alicerçar o conceito de dignidade na liberdade que enobrece o ser humano.

5. Sob esse aspecto, em lance de extrema beleza literária e profundidade filosófica, seja a passagem em que “a fênix dos gênios”, focaliza a liberdade como tema central para explicar o ser humano qual obra inacabada mas perfectível: “Não te fizemos nem celeste nem terreno, mortal ou imortal, de modo que assim, tu, por ti mesmo, qual modelador e escultor da própria imagem, segundo tua preferência e, por conseguinte, para tua glória, possas retratar a forma que gostarias de ostentar. Poderás descer ao nível dos seres baixos e embrutecidos; poderás, ao invés, por livre escolha da tua alma, subir aos patamares superiores, que são divinos” (in “A Dignidade do Homem”, págs. 53 e 54). Portanto, no exercício da sua liberdade, o homem decide sobre si e sua forma definitiva. Nesse sentido ele é causa de si mesmo, porém a título de criatura e de causa segunda.

6. Em sua abrangência precoce do saber, Picco, de sólida formação religiosa, soube ser um estudioso e cientista sem descurar a visão da transcendência. Ele era um pensador de profunda fé teológica e bíblica. Aliás, a sua percepção de ser humano está calcada na antropologia religiosa tal como foi explicitada pelo Magistério Oficial da Igreja no texto da constituição conciliar: “Gaudium et Spes”. Naquelas páginas, tratando do valor da pessoa humana, indicam-se os motivos mais remotos da sua dignidade e superioridade relativamente ao resto da criação.

7. Evidente que, ao destacar a dignidade do homem em nosso meio cultural, o ilustre professor da Uniderp e da Unaes, objetiva realçar uma instância suprema que ultrapassa de muito a precariedade de embasamentos feitos de mera positividade. Afinal, os “homens das ditaduras” eram todos figurados como modelos do positivismo jurídico de suas épocas. E quem teria, hoje, a coragem de engrandecer as tristes imagens que fizeram a grandeza marcial do cidadão sob os regimes de Hitler, Mussolini, Lênin e Stálin, Franco, Salazar e da ditadura militar brasileira?! Todos eles só criaram caricaturas da autêntica “dignidade humana”.
Portanto, ao alicerçar o conceito de dignidade na natureza racional e livre do homem, estamos mais do que declarando ou positivando os Direitos Humanos. Estaremos sim operacionalizando, concretamente, a efetivação dos mesmos, lançando mão das condições conceituais impostergáveis que nos predispõem favoravelmente para a erradicação de todo tipo de miséria humana.

8. Conclusão. Ocorre, aqui, uma frase do jusfilósofo alemão R. Spaemann (in “Lo Natural y lo Racional”, trad. Espanhola, Madrid, 1989): “A dignidade do homem é inviolável. Eis aí um conceito que pode ser tido como o direito humano em geral” (pág. 90). E mais na frente Spaemann acrescenta: “A idéia de dignidade humana encontra seu fundamento teórico e sua inviolabilidade em uma antologia metafísica, vale dizer, em uma filosofia do absoluto. A presença da idéia do absoluto numa sociedade é condição necessária para que seja reconhecida a incondicionalidade da dignidade do homem” (pág. 93). É como ensinava Kant: “O homem é um fim em si e nunca meio nas mãos de outros nem do poder”. Por sua vez, Miguel Reale repete: “O homem é o valor fundante de todos os valores”.

Advogada trabalhista e aluna da Esmagis.

Artigo escrito aos 01 de outubro de 1999 em Campo Grande/MS.

Texto já escrito

Primeiros princípios

* Suziley dos Santos da Silva



1. Dizem por aí que o mundo de hoje está carente de cabeças pensantes. Vivemos num deserto de filosofia, apegados apenas ao pragmatismo da eficiência. A rotina cristalizada em hábitos operacionais teria decretado a falência de qualquer produção metafísica. Todavia não é bem assim que Aristóteles avalia. Segundo o estagirita, a filosofia é tão conatural quanto nossa espontaneidade de pensamento. Com efeito, comenta ele, para não emitir conceitos de teor filosófico, necessário fora ou não pensar ou então cair em alienação total. Daí, a contatação daquela tendência para os elementos que estruturam, em última instância, a segurança das verdades de todo e qualquer enunciado ou juízo lógico. Ora, à guisa de fundamento, ali, estão, os primeiros princípios. São eles a argamassa da logicidade.

2. Sob esse prisma, Luiz Feracine, o filósofo do Pantanal, traz a lume o resultado de uma pesquisa intitulada: “Os primeiros princípios do saber”. O opúsculo acaba de ser editado pela “Sólivros” desta capital, em parceria com a Uniderp. Merece admirada a arte de diagramação elaborada pelo professor Hildebrando Campestrini. E ainda destaque especial para a capa. Ali, uma criança que ensaia os primeiros passos em busca de uma caminhada segura. Isso sugere que a busca dos primeiros princípios são os passos iniciais na conquista do pensar correto.

3. Ocorre, então, em preliminar, realçar aquela magistral definição dada por Tomás de Aquino ao conceito de princípio: “Princípio nada mais é do que aquilo de onde alguma coisa procede; tudo que, de alguma maneira, opera como ponto de procedência para outra coisa” (in S.T., I. q. 33, a 1).

4. Cumpre salientar, outrossim, que a mente humana antes de enfocar uma realidade particular, individualizada, um ente como por exemplo: casa, flor, cão, ela capta a realidade do ser como tal. E é da realidade do ser, em sua universalidade enquanto conceito abstrato, que emerge a configuração de cada realidade concreta. Portanto, no ato de apreender determinada realidade descobrimos que o que está aí, participa da plenitude ôntica do ser como tal. Da mesma forma, da concepção do ser em sua universalidade emergem as idéias relativas aos primeiros princípios. Eles emanam da fonte primordial do ser transcendental. Daí o valor ontológico dos mesmos.

5. Todavia, não podemos confundir os primeiros princípios com o ser. Eis então o esclarecimento dado pelo autor do livro em apreço: “...os princípios não representam meros sinônimos do conceito básico e universal de ser. São, sim, conceitos distintos porquanto desenovelam e ostentam facetas ou vertentes da riqueza cristalizada do ser, folheando suas espadanas múltiplas e rutilantes om o sopro da analogia de proporcionalidade própria” (in “Os primeiros princípios do saber”, pág. 51).

6. Nessa oportunidade seja dispensado justo cumprimento ao Reitor da Uniderp, o professor Pedro Chaves. Dele advém o apoio para esta produção intelectual. Pelo presente texto, pode-se aquilatar o nível dos cursos ministrados naquela Instituição.

7. Apraz, também, constatar que, dentro do novo Estado emergente, a juventude acadêmica já pode contar com pensadores autóctones, pantaneiros. Eis o título que deve ser conferido ao autor do opúsculo em pauta. Oxalá, tal texto sirva para trazer à tona o que está submerso em nosso modo de pensar qualquer área do conhecimento. Que sirva também como subsídio e estímulo para a criação de hábito dos primeiros princípios. Só assim serão alcançadas a coesão e a coerência na estrutura geral do discurso. A propósito, ante a suposta carência de cabeças pensantes, sirva como ponto de reflexão esta sentença de Leonardo da Vinci: “facile cosa farsi universale”. Ou seja: é fácil navegar na esfera da universalidade. E posto que, para nosso Miguel Reale o convívio com a dimensão da universalidade pertence à essência da filosofia, então nada mais conatural do que filosofar. Só que, em posse do conteúdo desta obra do Feracine, a filosofia ganha o plano da explicitação. O que era implícito, torna-se agora explícito. Parabéns!

A autora é advogada trabalhista e aluna da Esmagis.

Artigo escrito aos 24 de outubro de 1999.

Texto já escrito

Profissão ou vocação?

* Suziley dos Santos da Silva


Muitos são os professores, poucos os educadores. Eis aí uma constatação cotidiana na área educacional. Ao longo do processo educativo, seja no aspecto formal (maternal, jardim, pré-escolar, primário, fundamental, ginasial, superior), seja no aspecto informal (família, pais, irmãos, amigos), deparamo-nos com vários professores e uns poucos educadores. Diante de tal fato, ocorre-nos a seguinte reflexão acerca do perfil do “professor” e do “educador”, à guisa de questionamento: profissão ou vocação?
Há, com efeito, uma diferença essencial entre o “ser professor” e o “ser educador”. Aliás, o ilustre Rubem Alves em seu livro “Conversas com quem gosta de ensinar”, pág. 11 e segts., já adverte ao dizer:
“- Educadores, onde estão? Em que covas terão se escondido?
Professor, há aos milhares.
Mas professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor.
Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação.
E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança”.
Logo, a grosso modo, professor é o profissional que apenas transmite conhecimentos aos alunos. Já o educador, é o professor que não somente repassa conhecimentos aos educandos, mas também é o que está comprometido com o processo de transformação integral dos mesmos e da própria sociedade.
Feita tal distinção, elencando características captadas ao longo de nossa experiência educacional, ousamos traçar o perfil negativo de um mestre: desinteresse pelos educandos, preocupação apenas com seu salário, desânimo, saudosismo, acomodação, passividade, autoritarismo, intransigência, arrogância, prepotência, indisciplina, inconstância, incoerência, raiva, egoísmo, inveja, falta de qualificação, falta de conhecimento formal e informal, falta de respeito, falta de ética, preconceitos, vaidade intelectual, incapacidade de aceitação das diferenças, do novo, perseguição pedagógica, falta de didática, impaciência, falta de psicologia educacional, insatisfação, mau-humor, incapacidade de aceitação dos alunos que o superam, enfim, falta de vocação para o magistério. A tais professores, a despeito das características, aqui, apontadas, o nosso agradecimento sincero. Afinal, também nos ensinaram algo, ou seja, o como não ser um professor e muito menos um educador.
Já o perfil positivo de um mestre reúne, a nosso ver e sentir, as seguintes características, a saber: compromisso integral com os educandos, visão crítica, equilíbrio emocional, estudo contínuo e aperfeiçoamento constante, segurança no transmitir os conhecimentos formal e informal, honestidade intelectual, postura ética, humildade, sabedoria genuína, abertura para as divergências, para o novo, aceitação das diferenças, liberdade de ensino e de pensamento, doação, partilha de toda forma de saber, disposição, entusiasmo, alegria, satisfação quando os alunos o superam, constância, respeito a todos, paciência pedagógica, enfim, vocação nata para o magistério. A tais educadores a nossa profunda gratidão pela transmissão não somente de conhecimento e de ciência, mas também e, principalmente, pelo exemplo de vida, de solidariedade e de dignidade humana.
Assim, fazemos eco as belíssimas e poéticas palavras escritas por Rubem Alves que diz:
“Eu diria que os educadores são como as velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma estória a ser contada. Habitam um mundo em que o vale é a relação que as liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma entidade sui generis, portanto, têm nome, também uma “estória”, sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a educação é algo para acontecer neste espaço invisível e denso, que se estabelece a dois. Espaço artesanal” (obra citada).
Portanto, concluí-se que todo educador é um professor, mas nem todo professor é um educador. E muito menos, como fala e ensina um grande mestre, um autêntico agente de mudança social. Oxalá, um dia isto seja diferente!

Advogada e aluna da Esmagis.

Texto escrito em 2000. Campo Grande/MS.

Texto já escrito

O mito de Prometeu

* Suziley dos Santos da Silva


1. Quem um dia já não ouviu alguma narração mítica acerca da origem do universo, dos seres, das coisas? Figuras mitológicas pululam na imaginação de crianças e adultos. Pã, Narciso, Apolo, Afrodite, Júpiter são exemplos de tais personagens. E como tudo que existe tem uma razão de ser, eis que os mitos, desde os tempos longíquos, servem como explicações para toda a realidade. Surge então o relato sobre o trabalho, a técnica, a civilização. É a narrativa de Prometeu.

2. O mito de Prometeu era representado pela tragédia grega. Os atores encenavam o universo divino e heróico. A trama e o drama vivenciados pelos personagens, pelo protagonista, suscitavam no público fortes paixões. Era a maneira de “fazer chorar para fazer pensar”.

3. Prometeu era um titã, filho de Iápeto e Clímene, que para vingar a sua raça, cria o homem do barro e com a ajuda da deusa Atena, infunde-lhe uma alma. Ensina aos homens o domínio da natureza e o conhecimento de si próprio. Arrebata o fogo do Olimpo e entrega-o às criaturas que, libertadas do jugo dos deuses, iniciam a civilização. A punição dos homens é a caixa de Pandora que aberta espalha os males entre a humanidade. Prometeu é acorrentado a uma rocha e todos os dias, pela manhã, uma àguia faminta devora-lhe o seu fígado imortal. Esse é o seu castigo.

4. Eis que o homem, seguindo a sua natureza racional, domina a técnica, transformando o mundo, fazendo cultura e impulsionando o progresso. Torna-se a providência de si mesmo. Por isso inverte os meios e os fins. Anseia pela morte dos “deuses” para tornar liberto de sua rocha o Prometeu. Faz da técnica e do ideal de bem-estar seus fins últimos, dos homens meros acidentes despersonalizados, instrumentos nas mãos do grande “titã”, o Estado pós-moderno, que se torna, agora, o novo Prometeu. A isso, o filósofo italiano Reginaldo Pizzorni, denomina de um novo “ateísmo prometéico num mundo prometéico”.

5. Entretanto, felizmente, a civilização, a cultura, a técnica e o progresso são frutos da ação racional e livre do ser humano. É possível então modificar a concepção prometéica do homem e do mundo. Afinal, a experiência cristã, diferenciando-se da experiência grega e do materialismo pós-moderno, leva em conta o processo de transformação operada no homem por um Deus que também foi homem, no profundo do homem, no seu coração e na sua mente.

6. Eis que diante daqueles que apregoam ser a filosofia clássica avessa ao progresso, seja lembrada, aqui, a tese do Aquinate, a saber, “entia omnia et praesertim racionalia in potentia infinita sunt”. Ou seja, “todos os seres e principalmente os racionais são potencialmente infinitos”. Logo, o progresso e a técnica têm uma projeção para o infinito. Aliás, isso sob o aspecto filosófico é compatível com o princípio do finalismo. Pois Deus é o Alfa e o Ômega, isto é, o princípio e o fim de todas as realidades. E como “fim”, Ele é a perfeição que atrai pela sua plenitude, tornando-se a causa exemplar do desenvolvimento e do progresso de tudo aquilo que Ele próprio criou!!

Advogada e acadêmica de filosofia.

Artigo escrito em junho de 2000. Campo Grande/MS.

Textos já escritos

A revolução dos bichos

*Suziley dos Santos da Silva


Data de 1945 a publicação de “Animal Farm”. “A Revolução dos Bichos” é por muitos considerado o maior libelo já escrito contra a dominação exercida em nome da liberdade. É uma crítica contundente ao despotismo.

Antes de seguir o conselho do então professor de Teoria Geral do Estado, Drº Paulo Thadeu Gomes da Silva, que recomendava esta leitura, vem à tona o seguinte questionamento: teria o conteúdo daquela fábula aplicabilidade ao mundo contemporâneo e pós-moderno? Eis a questão, diria Shakespeare.

1. “A Revolução dos Bichos” é o título da obra literária mais vendida mundialmente. O pequeno livro anda já pela 60ª edição. Um “best seller” de verdade. A princípio, tal título sugere um público infanto-juvenil. Aliás, esta é a sua classificação técnica. Todavia, assim como Esopo, na Grécia antiga, e La Fontaine, na França, o escritor Eric Arthur Blair, com pseudônimo de George Orwell, utiliza-se da fábula para retratar o comportamento humano. Orwell parece ter feito de tudo um pouco. Nascido em Bengala, na Índia, filho de pais ingleses, serviu na Birmânia; lutou na Guerra Civil Espanhola; foi soldado, mendigo, livreiro, lavador de pratos, professor e jornalista. Além do que, Eric foi discípulo de Marx. Primeiramente, da ala radical do trotskismo e mais tarde, convertido ao socialismo democrático.

2. Ocorre, preliminarmente, a descrição de alguns componentes da mencionada fábula. A estória desenvolve-se na “Granja do Solar”, propriedade do Sr. Jones. Naquele cenário despontam os seguintes personagens: os porcos, os mais inteligentes dos animais (o velho Major, mentor intelectual da Revolução; Napoleão, o grande líder e “pai” de todos; Bola-de-neve, de palavra fácil e íntegro; Garganta, interesseiro, astuto e persuasivo); os cachorros “capangas” (Ferrabrás, Lulu e Cata-vento); os cavalos (Sansão, forte e de pouca inteligência mas de sólido caráter; Quitéria, uma égua volumosa, matronal; Mimosa, égua vaidosa, fútil e egoísta); o burro (Benjamim, o mais velho e moderado dos animais); a cabra Maricota; as ovelhas, as vacas, os patos, as galinhas, o gato; Moisés (o corvo espião do Sr. Jones).

3. As péssimas condições em que viviam os bichos daquela granja favoreceram a tomada de consciência. Perceberam que precisavam reverter o quadro e pôr fim aos maus-tratos, à exploração e ao descaso infligido pelo Sr. Jones. Pois os animais trabalhavam até a exaustão; recebiam pouca comida e ainda tinham que suportar a venda de suas crias, de seus ovos, o comércio de suas carnes, além da violência das esporas, dos chicotes, das ferraduras, da marcação. Assim para eles, a solução para todos aqueles problemas era a eliminação do Homem. O Homem era o verdadeiro e único inimigo.

4. É neste clima de revolta que surge a voz profética do velho Major. Ele recorda uma antiga canção que proclamava a conquista da liberdade e da dignidade de todos os bichos da Inglaterra. Após a sua morte os animais, liderados pelos porcos, fazem a revolução. Expulsam de suas terras o Sr. Jones. A “Granja do Solar” passa a chamar-se “Granja dos Bichos”. Os porcos então aprendem a ler e escrever. Estabelecem os princípios do novo sistema, a saber, do Animalismo e editam os seus mandamentos. Os animais acolhem, com alegria e obediência, tal ensinamento, já que, agora, finalmente, estariam libertos de toda sorte de escravidão.

5. Entretanto, passados os primeiros meses, sobrevém uma profunda decepção. Os porcos entram em divergência entre eles por causa do poder. O mais leal e íntegro é jogado fora e marginalizado. É tachado de traidor e considerado presença perniciosa. Ocorre, então, o desrespeito por todos os valores anteriormente firmados. Surgem a mentira, a farsa, a corrupção, os privilégios, a manipulação e o jogo das palavras. Enfim, toda espécie de prevaricação O domínio usa como bandeira a liberdade. Isso leva o autor a concluir: “Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez, mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco” (o.c., pág. 98).

6. Por certo que o conteúdo dessa estória representa a própria história dos homens em relação ao poder. Todo sistema de poder que desconsidera a pessoa humana, seja ele de esquerda, seja de centro ou de direita, decai sempre em algum tipo de despotismo. Nada melhor então do que acolher as sábias palavras do imortal Miguel Reale, o gênio da Filosofia do Direito: “O essencial, em suma, é reconhecer o status originário e primordial da pessoa humana como valor fonte, evitando-se não somente o mal irreparável das ideologias totalitárias, mas também toda e qualquer forma de autoritarismo” (in “O Estado Democrático de Direito e o Conflito das Ideologias”, pág. 111).

Portanto, o conteúdo ético de “A Revolução dos Bichos”, aplica-se à atualidade. Ao olhar em volta, contata-se que tanto na política como na religião ou na economia, aí, prevalece o princípio pragmático do utilitarismo maquiavélico que é a lei do mais forte. Vem, então, a calhar, aquele comentário de Rui Barbosa realizado na Conferência de 14 de julho de 1916, na Faculdade de Direito de Buenos Aires: “La raison du plus fort est toujours la meilleure. A fábula de La Fontaine encerra em si toda a evolução contemporânea do direito das gentes cultas. Que vale ao cordeiro estar bebendo abaixo do lobo, no veio da corrente, se, a despeito da evidência, o apetite do carniceiro voraz o argúi de lhe turvar as àguas?”(in “Rui Barbosa – Discursos, Orações e Conferências”, pág. 90).

Advogada e acadêmica no curso de Filosofia.

Artigo escrito aos 11 de dezembro de 2000. Campo Grande/MS.

sábado, 1 de agosto de 2009

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