Primeiros princípios
* Suziley dos Santos da Silva
1. Dizem por aí que o mundo de hoje está carente de cabeças pensantes. Vivemos num deserto de filosofia, apegados apenas ao pragmatismo da eficiência. A rotina cristalizada em hábitos operacionais teria decretado a falência de qualquer produção metafísica. Todavia não é bem assim que Aristóteles avalia. Segundo o estagirita, a filosofia é tão conatural quanto nossa espontaneidade de pensamento. Com efeito, comenta ele, para não emitir conceitos de teor filosófico, necessário fora ou não pensar ou então cair em alienação total. Daí, a contatação daquela tendência para os elementos que estruturam, em última instância, a segurança das verdades de todo e qualquer enunciado ou juízo lógico. Ora, à guisa de fundamento, ali, estão, os primeiros princípios. São eles a argamassa da logicidade.
2. Sob esse prisma, Luiz Feracine, o filósofo do Pantanal, traz a lume o resultado de uma pesquisa intitulada: “Os primeiros princípios do saber”. O opúsculo acaba de ser editado pela “Sólivros” desta capital, em parceria com a Uniderp. Merece admirada a arte de diagramação elaborada pelo professor Hildebrando Campestrini. E ainda destaque especial para a capa. Ali, uma criança que ensaia os primeiros passos em busca de uma caminhada segura. Isso sugere que a busca dos primeiros princípios são os passos iniciais na conquista do pensar correto.
3. Ocorre, então, em preliminar, realçar aquela magistral definição dada por Tomás de Aquino ao conceito de princípio: “Princípio nada mais é do que aquilo de onde alguma coisa procede; tudo que, de alguma maneira, opera como ponto de procedência para outra coisa” (in S.T., I. q. 33, a 1).
4. Cumpre salientar, outrossim, que a mente humana antes de enfocar uma realidade particular, individualizada, um ente como por exemplo: casa, flor, cão, ela capta a realidade do ser como tal. E é da realidade do ser, em sua universalidade enquanto conceito abstrato, que emerge a configuração de cada realidade concreta. Portanto, no ato de apreender determinada realidade descobrimos que o que está aí, participa da plenitude ôntica do ser como tal. Da mesma forma, da concepção do ser em sua universalidade emergem as idéias relativas aos primeiros princípios. Eles emanam da fonte primordial do ser transcendental. Daí o valor ontológico dos mesmos.
5. Todavia, não podemos confundir os primeiros princípios com o ser. Eis então o esclarecimento dado pelo autor do livro em apreço: “...os princípios não representam meros sinônimos do conceito básico e universal de ser. São, sim, conceitos distintos porquanto desenovelam e ostentam facetas ou vertentes da riqueza cristalizada do ser, folheando suas espadanas múltiplas e rutilantes om o sopro da analogia de proporcionalidade própria” (in “Os primeiros princípios do saber”, pág. 51).
6. Nessa oportunidade seja dispensado justo cumprimento ao Reitor da Uniderp, o professor Pedro Chaves. Dele advém o apoio para esta produção intelectual. Pelo presente texto, pode-se aquilatar o nível dos cursos ministrados naquela Instituição.
7. Apraz, também, constatar que, dentro do novo Estado emergente, a juventude acadêmica já pode contar com pensadores autóctones, pantaneiros. Eis o título que deve ser conferido ao autor do opúsculo em pauta. Oxalá, tal texto sirva para trazer à tona o que está submerso em nosso modo de pensar qualquer área do conhecimento. Que sirva também como subsídio e estímulo para a criação de hábito dos primeiros princípios. Só assim serão alcançadas a coesão e a coerência na estrutura geral do discurso. A propósito, ante a suposta carência de cabeças pensantes, sirva como ponto de reflexão esta sentença de Leonardo da Vinci: “facile cosa farsi universale”. Ou seja: é fácil navegar na esfera da universalidade. E posto que, para nosso Miguel Reale o convívio com a dimensão da universalidade pertence à essência da filosofia, então nada mais conatural do que filosofar. Só que, em posse do conteúdo desta obra do Feracine, a filosofia ganha o plano da explicitação. O que era implícito, torna-se agora explícito. Parabéns!
A autora é advogada trabalhista e aluna da Esmagis.
Artigo escrito aos 24 de outubro de 1999.
* Suziley dos Santos da Silva
1. Dizem por aí que o mundo de hoje está carente de cabeças pensantes. Vivemos num deserto de filosofia, apegados apenas ao pragmatismo da eficiência. A rotina cristalizada em hábitos operacionais teria decretado a falência de qualquer produção metafísica. Todavia não é bem assim que Aristóteles avalia. Segundo o estagirita, a filosofia é tão conatural quanto nossa espontaneidade de pensamento. Com efeito, comenta ele, para não emitir conceitos de teor filosófico, necessário fora ou não pensar ou então cair em alienação total. Daí, a contatação daquela tendência para os elementos que estruturam, em última instância, a segurança das verdades de todo e qualquer enunciado ou juízo lógico. Ora, à guisa de fundamento, ali, estão, os primeiros princípios. São eles a argamassa da logicidade.
2. Sob esse prisma, Luiz Feracine, o filósofo do Pantanal, traz a lume o resultado de uma pesquisa intitulada: “Os primeiros princípios do saber”. O opúsculo acaba de ser editado pela “Sólivros” desta capital, em parceria com a Uniderp. Merece admirada a arte de diagramação elaborada pelo professor Hildebrando Campestrini. E ainda destaque especial para a capa. Ali, uma criança que ensaia os primeiros passos em busca de uma caminhada segura. Isso sugere que a busca dos primeiros princípios são os passos iniciais na conquista do pensar correto.
3. Ocorre, então, em preliminar, realçar aquela magistral definição dada por Tomás de Aquino ao conceito de princípio: “Princípio nada mais é do que aquilo de onde alguma coisa procede; tudo que, de alguma maneira, opera como ponto de procedência para outra coisa” (in S.T., I. q. 33, a 1).
4. Cumpre salientar, outrossim, que a mente humana antes de enfocar uma realidade particular, individualizada, um ente como por exemplo: casa, flor, cão, ela capta a realidade do ser como tal. E é da realidade do ser, em sua universalidade enquanto conceito abstrato, que emerge a configuração de cada realidade concreta. Portanto, no ato de apreender determinada realidade descobrimos que o que está aí, participa da plenitude ôntica do ser como tal. Da mesma forma, da concepção do ser em sua universalidade emergem as idéias relativas aos primeiros princípios. Eles emanam da fonte primordial do ser transcendental. Daí o valor ontológico dos mesmos.
5. Todavia, não podemos confundir os primeiros princípios com o ser. Eis então o esclarecimento dado pelo autor do livro em apreço: “...os princípios não representam meros sinônimos do conceito básico e universal de ser. São, sim, conceitos distintos porquanto desenovelam e ostentam facetas ou vertentes da riqueza cristalizada do ser, folheando suas espadanas múltiplas e rutilantes om o sopro da analogia de proporcionalidade própria” (in “Os primeiros princípios do saber”, pág. 51).
6. Nessa oportunidade seja dispensado justo cumprimento ao Reitor da Uniderp, o professor Pedro Chaves. Dele advém o apoio para esta produção intelectual. Pelo presente texto, pode-se aquilatar o nível dos cursos ministrados naquela Instituição.
7. Apraz, também, constatar que, dentro do novo Estado emergente, a juventude acadêmica já pode contar com pensadores autóctones, pantaneiros. Eis o título que deve ser conferido ao autor do opúsculo em pauta. Oxalá, tal texto sirva para trazer à tona o que está submerso em nosso modo de pensar qualquer área do conhecimento. Que sirva também como subsídio e estímulo para a criação de hábito dos primeiros princípios. Só assim serão alcançadas a coesão e a coerência na estrutura geral do discurso. A propósito, ante a suposta carência de cabeças pensantes, sirva como ponto de reflexão esta sentença de Leonardo da Vinci: “facile cosa farsi universale”. Ou seja: é fácil navegar na esfera da universalidade. E posto que, para nosso Miguel Reale o convívio com a dimensão da universalidade pertence à essência da filosofia, então nada mais conatural do que filosofar. Só que, em posse do conteúdo desta obra do Feracine, a filosofia ganha o plano da explicitação. O que era implícito, torna-se agora explícito. Parabéns!
A autora é advogada trabalhista e aluna da Esmagis.
Artigo escrito aos 24 de outubro de 1999.
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