segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Sinfonia inacabada....


Imagem da Internet Crédito Artista Douglas Okada
 
 
Não tenho escrito muito. Aliás, quase nada. Pois, nos dois últimos anos, senti a necessidade maior de ouvir do que escrever ou do que falar. A cabeça e o coração estão processando as ideias, as palavras, os sentimentos. É o próprio “deserto”. Todavia, mesmo sendo um “deserto”, onde reina a voz do silêncio, eles (a cabeça e o coração) encontram-se plenos de manifestações. Hoje, ao sair para dar a caminhada da tarde com os cachorros, fui ao Parque da Marinha. Levei não somente a Lady e o Cigano, mas, também, e, principalmente, os meus ouvidos, os meus olhos, para fazer um giro. E neste giro vespertino meus olhos ouviram e meus ouvidos enxergaram. Uma sinfonia de cigarras. Que encheu a nossa tarde, o nosso passeio. Ali, numa parada estratégica, sentimos não somente o calor do sol, mas, também, a “alegria de estarmos conectados com a natureza. Surge, nesses momentos, uma saudade dum certo “paraíso perdido”. Um tempo, um lugar, um momento, onde tudo fazia sentido. Vivíamos em harmonia com os seres. Entre nós. Como numa bela sinfonia da criação. As cigarras, certamente, seriam os violinos da orquestra. Os quero-quero, regentes. Sabiás, e tantos mais, emitem a melodia harmoniosa. Estamos, ali. Em meio a natureza. Cheia de claves, tons, ritmos, notas musicais. Os ouvidos enxergando cada detalhe, cada arranjo. E o solo quem seria, ali?! Com os olhos em escuta, logo, logo, o “paraíso” foi invadido pelos fortes latidos da Lady que avistou uma garça. Ribombos de euforia. Valentia canina. Tá legal. Vamos em frente. Aí, nesta distração passageira, a cabeça já pensou, por que será o nome de cigarra a tal ser. E o que teria a ver com a outra palavra cigarro?! Divagações, “dor-de-ideia”, como bem escreveu Rubem Alves. Mas, voltando para casa, a sinfonia cada vez mais se desvanecia. O som, agora, era dos carros. Da correria. E, mais tarde, será dos fogos de artifício. E a vida segue o seu próprio ritmo. A vida está dentro de cada um de nós. Somos parte dessa harmonia que o Criador realizou. O solo é o Menino Jesus que nasceu e um de nós se tornou. Afinar os nossos instrumentos internos, é lei necessária e vital. Regular as cordas do nosso coração. Uma pausa. Um aquecimento. Deslumbrarmos com os bons sons que podemos emitir. Sons de boa saúde, de alegria, de bondade, de amizade, de paciência, de tolerância, de sapiência, de justiça, de caridade. Daqui a pouco será noite na grande “cidade dos homens”. A sinfonia  está inacabada. Cada um é parte, é instrumento, é voz. Há diversidade de dons. Então, que cada um vista a sua roupa da paz, afine os instrumentos da esperança e difunda a música do amor. Paz e bem a todos nós!!

Os agradecimentos a todos que de alguma forma estão trilhando juntos conosco a nossa estrada. Pais queridos, irmã, irmãs e irmãos de coração, de fé, querido esposo e companheiro, estimados “filhos”, tios, tias, primos, primas, parentes, amigos e amigas de infância, de adolescência, de juventude, amigos de faculdade, amigos, de ontem, de hoje e os que virão, colegas de trabalho, pessoas que passaram por nós, entraram em nossas vidas, que estão em todos os recantos do universo. Pessoas que não conhecemos muito, amigos virtuais. Reais. Amigos das letras, dos textos, das crônicas, das poesias, das artes. Enfim, amigos, sempre amigos. Um agradecimento pela partilha, pela riqueza humana que cada um nos trouxe, e que nos traz. Já andamos um pouquinho. Estamos, aqui, em Porto Alegre, pois é aqui que precisamos estar nesse momento. Momento que enfrentamos a doença dos nossos queridos. E o fazemos com alegria, com fé, com coragem, com paz em nossos corações. Em nossos rostos, a alegria e a esperança, sempre. Cumprimos o mandamento do amor. Para todos vocês e para toda a humanidade, saúde, paz, amor, fé, esperança, o pão material (o dinheiro), o trabalho digno, o respeito, a liberdade de se autoconstruir!! Com o coração exultante, os votos de um abençoado e feliz Ano Novo, 2013 a todos!! : )

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

O Guri de Belém...


Imagem da Internet
 
No silêncio do coração humano, ressoam cânticos de júbilo, proferidos pelos mensageiros celestiais. “Glória a Deus no mais alto céu e paz na terra aos homens por Ele amados”! Hoje, o Verdadeiro Amor nos foi dado. Seu nome é Emanuel, Deus conosco, Príncipe da paz será chamado. “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”! A Palavra do Pai abreviou-se e se fez pequena. Numa manjedoura. O Eterno tornou-se sensível, compreensível, palpável, audível aos nossos sentidos, à nossa inteligência e ao nosso coração. Deus se fez um de nós, para nos tornarmos na Sua humanidade redentora, homens divinos. Anunciado pelos profetas, buscado pelos sábios de outrora, a Palavra divina se manifestou. Inseriu-se na história. Fez-se Menino. Revelou-se, por primeiro, aos pobres pastores de sua época. Pobres e marginalizados. Os excluídos do seu tempo. Foi a eles que, primeiramente,  o pequenino se mostrou. Na simplicidade, vamos com eles, novamente, hoje, retornar a também pequenina Belém da Judéia.

Ali, onde a vinte séculos atrás, sob o jugo do Império de César Otávio Augusto, Deus armou a Sua tenda no chão da nossa humanidade desvalida. Uniu em Si o Céu e a Terra. Nova aliança. Esperança profetizada. Promessa realizada. Nasceu pequenino e frágil. Menino Luz que dissipa as trevas da nossa noite e anuncia a chegada de uma nova aurora. Sol radiante que nos renova a cada instante. Deus Menino. Não estamos mais sozinhos. Somos convidados a participar de Sua bondade, de Sua alegria, de Sua realeza. Estrela que nos guia. Que nos leva, de novo, a Belém. Epifania da fé. É assim que a presença luminosa desta criança revela-nos os traços de Deus Pai.  Deus que deseja estar junto a cada um de nós. O Amor que anseia por amar-nos.

O Seu rosto pueril nos interpela a aceitá-lo, a cuidá-lo, a protegê-lo e a amá-lo. O Menino Deus bate a nossa porta. Precisa de cada um de nós. E isso nos desconcerta. Mexe com as estruturas da nossa pseudo autossuficiência. Abala os alicerces dos nossos sofisticados, e muitas vezes, falaciosos silogismos. Questiona a nossa prepotência racional. Desnuda as nossas velhas vestes do individualismo. Desmascara o nosso egoísmo na desenfreada busca somente da satisfação material. Desmistifica o nosso crescente relativismo ético que nada define e tudo aceita. O Seu modo surpreendente de Se revelar na pobreza e na fragilidade da pessoa e da vida, e mais tarde, na Sua paixão e morte redentora, interpela a nossa humana razão. O Seu modo de ser e de se fazer Deus coloca em crise o nosso modo de ser homens.

O Menino Deus de Belém não se apresenta como um Deus com poderes temporais, com exércitos, com reinos. Ele não se impõe à nossa liberdade. Antes pelo contrário. Ele aparece como o verdadeiro homem, imagem e semelhança de Deus, e revela o que é, de fato, ser humano. Supera de muito os nossos modelos sociológicos, psicológicos, antropológicos, históricos, filosóficos de homem. Ele é o Filho de Deus feito homem. É o homem perfeito, o homem como Deus sonhou! Real e transcendente. Quem Dele se aproxima e assimila os seus ensinamentos, os seus sentimentos, o seu modo de ser, encontra a verdadeira paz. Já não existem as trevas, as angústias, os medos, as tristezas, as desolações nos nossos corações. Já não estamos sós. Mas na luz daquele Guri de Belém.

Pequenino e frágil, tão humano, tão divino, Homem-Deus. Com Santo Agostinho, dizemos para nós mesmos: “Desperta, ó homem! Por ti, Deus se fez homem!” (Sermões, 185). E a mensagem de esperança repete-se, também, incansavelmente para todos nós: “Ó homem moderno, adulto e todavia, às vezes débil de pensamento e de vontade, deixa o Menino de Belém conduzir-te pela mão; não temas, confia n’Ele! A força vivificante da sua luz dá-te coragem para te empenhares na edificação duma nova ordem mundial, fundada sobre relações éticas e econômicas justas. O Seu amor guie os povos e ilumine a sua consciência comum de que são uma ‘família’ chamada a construir relações de confiança e de mútuo apoio. Unida, a humanidade poderá enfrentar os numerosos e preocupantes problemas da atualidade: desde a ameaça terrorista às condições de humilhante pobreza em que vivem milhões de seres humanos, desde a proliferação das armas às pandemias e à degradação ambiental que ameaça o futuro do planeta” (Concílio Vaticano II – 1962 a 1965).

E assim, de joelhos, em adoração ao Menino Jesus, diante do mistério da encarnação do Amor que se doa, recordamos de Santo Ambrósio que dizia que “cada cristão que crê, em certo sentido, concebe e gera em si mesmo o Verbo de Deus: se há uma só Mãe de Cristo segundo a carne, segundo a fé, porém, Cristo é o fruto de todos”. Por isso, dizemos: desperta, homem do terceiro milênio! Abre a porta do seu coração. Deixe o Menino nele entrar. Nele ficar. Somente Ele é a razão, o sentido de tudo o que existe. É o próprio “pão descido do céu” para saciar a nossa fome de paz. A paz de que tanto necessitamos. Deixe que se opere em ti a verdadeira transformação. O amor, o perdão. Um mundo mais justo, mais humano, mais irmão!

Glória e louvor a Ti pequenino Deus Menino! Amém! : )

 

 
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