O mito de Prometeu
* Suziley dos Santos da Silva
1. Quem um dia já não ouviu alguma narração mítica acerca da origem do universo, dos seres, das coisas? Figuras mitológicas pululam na imaginação de crianças e adultos. Pã, Narciso, Apolo, Afrodite, Júpiter são exemplos de tais personagens. E como tudo que existe tem uma razão de ser, eis que os mitos, desde os tempos longíquos, servem como explicações para toda a realidade. Surge então o relato sobre o trabalho, a técnica, a civilização. É a narrativa de Prometeu.
2. O mito de Prometeu era representado pela tragédia grega. Os atores encenavam o universo divino e heróico. A trama e o drama vivenciados pelos personagens, pelo protagonista, suscitavam no público fortes paixões. Era a maneira de “fazer chorar para fazer pensar”.
3. Prometeu era um titã, filho de Iápeto e Clímene, que para vingar a sua raça, cria o homem do barro e com a ajuda da deusa Atena, infunde-lhe uma alma. Ensina aos homens o domínio da natureza e o conhecimento de si próprio. Arrebata o fogo do Olimpo e entrega-o às criaturas que, libertadas do jugo dos deuses, iniciam a civilização. A punição dos homens é a caixa de Pandora que aberta espalha os males entre a humanidade. Prometeu é acorrentado a uma rocha e todos os dias, pela manhã, uma àguia faminta devora-lhe o seu fígado imortal. Esse é o seu castigo.
4. Eis que o homem, seguindo a sua natureza racional, domina a técnica, transformando o mundo, fazendo cultura e impulsionando o progresso. Torna-se a providência de si mesmo. Por isso inverte os meios e os fins. Anseia pela morte dos “deuses” para tornar liberto de sua rocha o Prometeu. Faz da técnica e do ideal de bem-estar seus fins últimos, dos homens meros acidentes despersonalizados, instrumentos nas mãos do grande “titã”, o Estado pós-moderno, que se torna, agora, o novo Prometeu. A isso, o filósofo italiano Reginaldo Pizzorni, denomina de um novo “ateísmo prometéico num mundo prometéico”.
5. Entretanto, felizmente, a civilização, a cultura, a técnica e o progresso são frutos da ação racional e livre do ser humano. É possível então modificar a concepção prometéica do homem e do mundo. Afinal, a experiência cristã, diferenciando-se da experiência grega e do materialismo pós-moderno, leva em conta o processo de transformação operada no homem por um Deus que também foi homem, no profundo do homem, no seu coração e na sua mente.
6. Eis que diante daqueles que apregoam ser a filosofia clássica avessa ao progresso, seja lembrada, aqui, a tese do Aquinate, a saber, “entia omnia et praesertim racionalia in potentia infinita sunt”. Ou seja, “todos os seres e principalmente os racionais são potencialmente infinitos”. Logo, o progresso e a técnica têm uma projeção para o infinito. Aliás, isso sob o aspecto filosófico é compatível com o princípio do finalismo. Pois Deus é o Alfa e o Ômega, isto é, o princípio e o fim de todas as realidades. E como “fim”, Ele é a perfeição que atrai pela sua plenitude, tornando-se a causa exemplar do desenvolvimento e do progresso de tudo aquilo que Ele próprio criou!!
Advogada e acadêmica de filosofia.
Artigo escrito em junho de 2000. Campo Grande/MS.
* Suziley dos Santos da Silva
1. Quem um dia já não ouviu alguma narração mítica acerca da origem do universo, dos seres, das coisas? Figuras mitológicas pululam na imaginação de crianças e adultos. Pã, Narciso, Apolo, Afrodite, Júpiter são exemplos de tais personagens. E como tudo que existe tem uma razão de ser, eis que os mitos, desde os tempos longíquos, servem como explicações para toda a realidade. Surge então o relato sobre o trabalho, a técnica, a civilização. É a narrativa de Prometeu.
2. O mito de Prometeu era representado pela tragédia grega. Os atores encenavam o universo divino e heróico. A trama e o drama vivenciados pelos personagens, pelo protagonista, suscitavam no público fortes paixões. Era a maneira de “fazer chorar para fazer pensar”.
3. Prometeu era um titã, filho de Iápeto e Clímene, que para vingar a sua raça, cria o homem do barro e com a ajuda da deusa Atena, infunde-lhe uma alma. Ensina aos homens o domínio da natureza e o conhecimento de si próprio. Arrebata o fogo do Olimpo e entrega-o às criaturas que, libertadas do jugo dos deuses, iniciam a civilização. A punição dos homens é a caixa de Pandora que aberta espalha os males entre a humanidade. Prometeu é acorrentado a uma rocha e todos os dias, pela manhã, uma àguia faminta devora-lhe o seu fígado imortal. Esse é o seu castigo.
4. Eis que o homem, seguindo a sua natureza racional, domina a técnica, transformando o mundo, fazendo cultura e impulsionando o progresso. Torna-se a providência de si mesmo. Por isso inverte os meios e os fins. Anseia pela morte dos “deuses” para tornar liberto de sua rocha o Prometeu. Faz da técnica e do ideal de bem-estar seus fins últimos, dos homens meros acidentes despersonalizados, instrumentos nas mãos do grande “titã”, o Estado pós-moderno, que se torna, agora, o novo Prometeu. A isso, o filósofo italiano Reginaldo Pizzorni, denomina de um novo “ateísmo prometéico num mundo prometéico”.
5. Entretanto, felizmente, a civilização, a cultura, a técnica e o progresso são frutos da ação racional e livre do ser humano. É possível então modificar a concepção prometéica do homem e do mundo. Afinal, a experiência cristã, diferenciando-se da experiência grega e do materialismo pós-moderno, leva em conta o processo de transformação operada no homem por um Deus que também foi homem, no profundo do homem, no seu coração e na sua mente.
6. Eis que diante daqueles que apregoam ser a filosofia clássica avessa ao progresso, seja lembrada, aqui, a tese do Aquinate, a saber, “entia omnia et praesertim racionalia in potentia infinita sunt”. Ou seja, “todos os seres e principalmente os racionais são potencialmente infinitos”. Logo, o progresso e a técnica têm uma projeção para o infinito. Aliás, isso sob o aspecto filosófico é compatível com o princípio do finalismo. Pois Deus é o Alfa e o Ômega, isto é, o princípio e o fim de todas as realidades. E como “fim”, Ele é a perfeição que atrai pela sua plenitude, tornando-se a causa exemplar do desenvolvimento e do progresso de tudo aquilo que Ele próprio criou!!
Advogada e acadêmica de filosofia.
Artigo escrito em junho de 2000. Campo Grande/MS.
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