Estive por cinco dias distante do meu blog envolvida com atividades prementes e necessárias. Desliguei-me um pouquinho do mundo. Mas não tanto. Afinal, desde segunda-feira passada diversos foram os acontecimentos ocorridos no Brasil e no mundo. Notícias pela televisão, pelos jornais, pela internet. Notícias anunciadas de boca em boca para todos os ouvidos que quisessem ouvir. E como já dizia o Cristo: "Qui potest capere, capiat"! Em vernáculo: “Quem tiver ouvidos, que ouça”! E eu, infelizmente, ouvi. Ouvimos todos nós, na terça-feira passada, a triste notícia do terremoto que reduziu a poeira e a escombros a capital haitiana de Porto Princípe. O Haiti é considerado o país mais pobre das Américas (do Sul, Central e do Norte). Colônia de exploração francesa até o início do século XIX, foi o único país onde escravos trazidos da Àfrica conseguiram uma rebelião bem-sucedida em 1803. Todavia, a “independência” obtida dos franceses e entregue nas mãos de Jean-Jacques Dessalines, em 1804, que se declarou seu imperador, em nada contribuiu para a construção de uma nação livre, solidária e justa. Antes pelo contrário, tornando-se “território de ninguém”, o Haiti foi dominado por uma súcia de dirigentes criminosos. Várias intervenções estrangeiras, inclusive dos U.S.A. A perversa dinastia Duvalier. Papa Doc (Paizinho Doutor como era chamado) e seu filho sucessor, Baby, foram tão destrutivos e arrasadores com aquele país quanto o foi este trágico terremoto. Os prejuízos materiais e humanos são gigantescos. O mundo terminou de desabar no Haiti. Entre o que restou em pé, o portão do cemitério local vaticinava o colapso que se tornaria Porto Princípe, com a seguinte inscrição em francês: “Sou-vennons-nous que tout est poussière”. Ou seja: “Tudo era mesmo poeira no Haiti”.
Mas uma mulher, uma brasileira, ali, estava para contrariar a lógica tirana da morte cultural daqueles tão miseráveis e despossuídos haitianos. Nascida em Forquilhinha, Santa Catarina, a médica pediatra e sanitarista, Zilda Arns Neumann, incansável defensora da vida, sobretudo a das crianças, fez ecoar, naquela fatídica tarde de 12/01, na casa paroquial da Igreja Sacré Coeur de Tugeau, onde proferia uma palestra a leigos, religiosos e religiosas, os ensinamentos que a Pastoral da Criança, por ela efetivada, desde 1983, vem difundindo para todas as mães deste nosso Brasil. Medidas simples e eficientes no combate à mortalidade infantil. Entre as quais, o soro caseiro (duas medidas de açúcar e uma de sal), a multimistura (feita de casca de ovo, arroz, milho, semente de abóbora e outros ingredientes singelos). Zilda acreditava na vida, vida em abundância para todos, para todas as crianças do Brasil e do mundo. Viúva e mãe biológica de seis filhos, tornou-se por sua doce mas firme personalidade, a “mãe” das muitas crianças que conseguiram sobreviver à poeira da ignorância e da morte. Sua fé moveu montanhas, mudou vidas, tranformou o mundo. Relata o tenente Strapazzon que a acompanhava para servir de intérprete, naquele dia, e que havia saído do prédio minutos antes, que Zilda foi atingida na cabeça por uma viga do teto que desabou. A ilustre senhora catarinense de 75 anos morreu em pé, “combatendo o bom combate” como proclamou S. Paulo.
E esta é a vida do bom cristão. Fazer da própria vida um serviço de amor ao próximo. Promover a vida em sua plenitude sempre. Muitas vezes, destes trágicos acontecimentos, despertamo-nos do nosso egoísmo e da nossa comodidade e a exemplo de vários brasileiros e estrangeiros, voltamos os nossos olhos para aquele país miserável, enxergando as nossas próprias misérias humanas, as nossas “trevas” de ignorância. E, aí, motivados pelo exemplo de uma mulher cidadã, passamos a agir perante os nossos mais próximos e mais necessitados. É o mistério da vida e da morte. É a sina daqueles que verdadeiramente são capazes de amar. Nada foi em vão, Zilda Arns. O Haiti, o Brasil e o mundo não irão sucumbir na poeira dos escombros da morte. Pois sempre haverá outras Zildas, outros cristãos e cristãs que farão a diferença. E na mesma fé que a impulsionava a seguir em frente, hoje, lendo uma mensagem que recebi de uma pessoa amiga, que belamente comparava a firmeza que os passarinhos tem em não cair dos galhos por causa dos tendões dos seus joelhinhos dobrados com os joelhos humanos dobrados em oração, constatamos que com seus joelhos dobrados pela aceitação do projeto de Deus em sua vida, nasceste para ficar em pé! Assim como todos os países, como todas as crianças do mundo inteiro. Obrigada Zilda! Que Deus a tenha!
Oi, Suziley
ResponderExcluirTeu texto é uma prece de amor a uma vida de doação que certamente se foi para junto do Pai trabalhar mais fortemente por suas crianças e idosos!!
Ana
É isso aí, Ana, pela comunhão dos santos, temos mais uma boa pessoa a interceder por todas as crianças e também pelos idosos junto ao Pai Eterno! E vamos em frente! Obrigada!!
ResponderExcluirSuziley Silva.
Minhas primeiras palavras para comentar sobre "Nasceste para ficar em pé"! são de espanto pela oportunidade e pela profundidade que mergulhastes no tema que começou na segunda-feira passada. Ainda, ontem, acompanhando os noticiários, um soldado filmou com seu celular uma cena de grande apelo a todos nós. Seu porta-voz ficou de pé! Olhando por todo aquele povo que cruzava sobre a sua frente a procura de socorro. Trata-se da estátua de Cristo crucificado que a mais de 2000 anos veio para, aqui, pregar a boa nova. O mandamento do amor. O amar ao próximo como a ti mesmo! Nossos soldados, pelo que vi, na televisão, mostraram ser verdadeiros apóstolos, independentes, certamente, de suas crenças, mas seguidores, voluntária ou involuntariamente, pelo impulso de solidariedade, pela fé, estão mostrando a todos nós que o importante são as obras. Como mestres estão, ali, a nos ensinar com suas atitudes, sua coragem, sua solidariedade com aquele povo que vive a mais de 200 anos sob o regime da exploração, da miséria, da doença, da fome e tudo que não desejaríamos a nenhum dos nossos semelhantes. Será que a natureza e disto temos que nos envergonhar, precisou agir com violência para que o mundo se acordasse para o grande crime de exploração e de omissão, principalmente, com os poderosos irmãos do Norte, que neste particular, são mestres. Lá, como pude pessoalmente observar, e o mundo sabe disso, o deus deles é o dinheiro pois são mestres em administrar. Vamos ver agora o que acontece. Será que a dureza dos corações deles é a mesma ou talvez pior, dos fariseus, dos escribas e tantos outros. Ou será que eles, face a esta situação, tomarão uma atitude que Zaqueu ao convidar Jesus para almoçar com ele, disse que iria indenizar todo mal que havia praticado aos contribuintes de Jerusalém. Os quais haviam sido por eles, impiedosamente, explorados. Será que os tentáculos da exploração, da enganação, da falta de ética, serão rompidos, agora, pela força da fé daquele povo tão sofrido?! O tempo dirá. Aguardemos. E vamos, aqui longe, orar por eles porque na minha visão não existe entre eles e os algozes que crucificaram Jesus nas suas atitudes, palavras, erros e omissões nenhuma diferença. Acredito que o olhar Daquele que lá de cima e mesmo em qualquer lugar, vela por nós, irá modificar os corações de todos nós e, principalmente, daqueles que desfraudam a bandeira da exploração. Talvez, fosse necessário 200 mil pessoas morrerem e alguns milhões ficassem na desolação, na dor, no abandono, na desgraça, para que em nossos corações o amor ao próximo passasse a partir destes episódios a reinar em nós todos por inteiro e nos conscientizarmos que todos os cabelos de nossa cabeça estão contados. Teremos que dar conta, num futuro incerto. É isto.
ResponderExcluirObrigada Manoel por sua contribuição, por seu comentário. Realmente, o que importa são as boas obras. As nossas e a de todos que se dedicam ao próximo. Não precisamos dar "nomes aos bois" pois a muito sabemos que os países do terceiro mundo são explorados pelos países do primeiro. Sabemos que o deus deles é o dinheiro. Mas, também, temos certeza que não é só lá. E cá, ali, aqui. Pois a natureza humana é egoísta em qualquer lugar e nação. Somos explorados mas, também, exploramos o "outro". Devemos, sim, ser conscientes dessa exploração, mas, também, agirmos diferente, semeando a justiça, o amor e o perdão. Pois, afinal, não podemos ter medo daqueles que não partilham da nossa fé e da nossa filosofia. Não podemos ficar paralisados como mero expectadores. Vamos, então, fazer a nossa parte e semear a esperança sempre e em qualquer situação. Um beijo.
ResponderExcluir