O Boca de Rua é um jornal alternativo de publicação trimestral, iniciado em 2000, como um projeto vinculado à Ong denominada A.L.I.C.E (Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação). O Boca surgiu da iniciativa de duas jornalistas, a saber, Rosina Duarte e Clarinha Glock que foram ao encontro dos moradores de nossas ruas e praças. E foi a caminho da consulta médica de meu marido que, no final da tarde de hoje, próximo à Avenida Osvaldo Aranha, adquirimos de um rapaz (participante do mencionado jornal) a primeira edição trimestral do Boca de Rua neste inicio de ano novo. E tal edição está sensacional! Muita criatividade e talento por parte daqueles que são os atores principais na feitura deste jornal impresso, a saber, as pessoas em situação de rua e de risco social de Porto Alegre. É, de fato, um jornal genuínamente democrático. As pautas são definidas por votação em reuniões periódicas. Todos participam em grupos com sugestões e ficam responsáveis pelas pautas que são distribuídas entre os mesmos. Os que não sabem ler nem escrever participam com sugestões, opiniões e fazem perguntas para as entrevistas. Quem é alfabetizado anota o que os outros dizem. Os próprios moradores realizam as entrevistas, montam as pautas, fotografam, organizam as informações obtidas e transcritas. A diagramação é feita por Rosana Pozzobon. Depois, o material é enviado à gráfica do jornal O Pioneiro de Caxias do Sul. De lá, o jornal vem de ônibus mediante a A.L.I.C.E e é distribuído aos integrantes do Boca que o vendem as pessoas pelo valor de R$ 1,00 nas sinaleiras das ruas e avenidas movimentadas. A renda obtida pertence e é revertida aos próprios vendedores. Enfim, é a democratização da comunicação. Há também o Boquinha (inserido no Boca de Rua) escrito pelas crianças, adolescentes e jovens de rua. O primeiro exemplar do Boca de Rua circulou em Porto Alegre no ano de 2001 na ocasião do primeiro Fórum Social Mundial. E de lá para cá, já se vão 10 anos. Oxalá, passem 20, 30, 40 e mais anos, sempre promovendo a educação e a cidadania daqueles que são marginalizados e excluídos da nossa sociedade. Que tal veículo seja a voz dos sem voz que vivem nas ruas e que clamam por justiça social, por condições dignas de vida. Cabe, ainda lembrar, que o Boca de Rua já produziu três documentários e um vídeo de ficção, além de duas exposições fotográficas (Faces da Rua e A dupla Face da Rua). Produziu, também, um livro literário (Histórias de Mim - Escrituras do Povo da Rua - Editora Quixote). O jornal já obteve os seguintes prêmios, a saber: Prêmio Direitos Humanos 2002; Prêmio INSP - The International Street Paper Awards 2008 - Best Vendor Essay - A fresh perspective from the street; Prêmio Pontos de Mídia Livre do Ministério da Cultura/2009. Enfim, só nos resta parabenizar esta iniciativa por parte de profissionais comprometidos com os despossuídos. Parabenizar aos moradores de rua que com suas vidas vão escrevendo a sua própria história! E para aqueles que, além do jornal impresso, quiserem participar e acompanhar o Boca de Rua pela internet, segue o endereço: http://www.bocaderuanainternet.blogspot.com/
E para finalizar seja este pequeno texto produzido por uma das crianças, adolescentes que assim se expressou:
"Tem gente que tem identidade, mas não tem carteira de identidade. Tem gente que tem carteira de identidade mas vive mudando de identidade, imitando os outros, se fingindo do que não é". Genial e essencial!!! Parabéns!!! Bravo!!!
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