Que rei sou eu?! Vivo sujo e maltrapilho. Vivo só. Enclausurado nos meus sentimentos. Guardo apenas as lembranças do que fui e do que nunca mais serei. Meu reino é a rua. Nela adormeço para depois novamente despertar. O frio não me incomoda. Pois ele não é nada comparado a dor que trago dentro do peito. A dor era tanta que, agora, nem mais a percebo. Anestesiado pela rotina, já nem me importo. Vivo da caridade alheia. “Olá, bom dia, senhor Almir”, ouço a me dizerem. Será mesmo que me chamo Almir?! Já nem sei. Talvez, eu seja como o Vulcano e/ou Hefesto das mitologias greco-romana. Vulcano (Hefesto) era filho de Júpiter com Juno. Por ser muito feio foi lançado ao mar pela própria mãe para que ficasse escondido de todos nos abismos profundos. Todavia, as filhas do Oceano, Tétis e Eurínome, o acolheram e o protegeram. E assim Vulcano viveu escondido e trabalhando com todo tipo de matéria fundível. Ferro, ouro, prata, metais. Era coxo. Porém, laborioso e engenhoso.Trabalhava com o fogo. Desposou a bela e infiel Vênus (Afrodite). Maltrapilho, talvez, não encontre assim nenhuma beleza. Jogado, sim, na vida estou. Mas trabalho nenhum realizo. Só fundo as dores nas conversas com os transeuntes. Quem sabe eu sou como a flor de jacinto. Jacinto, um jovem mortal muito amado pelas divindades. Sobretudo, por Apolo que o seguia por onde quer que fosse. Um dia, os dois brincavam com um disco. Quando, então, enciumado da amizade e da preferência de Jacinto por Apolo, Zéfiro (o vento do oeste) muda a direção do disco lançado e este atinge a cabeça de Jacinto, que cai morto no chão. E, no lugar onde o sangue manchou a terra, nasce, então, a flor do jacinto. Dois personagens. Um desprezado, rejeitado. O outro amado. Quem sabe sou os dois extremos. Tudo e nada. E seja este o meu reino. De guerra e de paz. Prego para as árvores e bancos da praça. Sou silêncio e conversas aceleradas. Hoje, é dia de outro pregador. São Jacinto, o “Apóstolo da Polônia”. Pregou o amor. Semeou a fé. Talvez, o que no fundo da minha alma me sustente, num mundo carente de sentido, seja o acreditar que nem tudo ainda está perdido. Encontro pessoas que vem, que passam e que me abraçam com solidariedade, com compaixão. Mas, digo, assim: “Da rua eu não saio. Daqui não”. Não posso. Aqui é o meu reino. Aqui, sou real. A sua Majestade Almir da Praça Israel. Entrem e sejam bem-vindos!
* Aqui, perto de casa há uma praça, sempre encontramos um senhor. Que se diz chamar Almir. Ele passa, ali, a maior parte do seu tempo. Mas sempre vai para o abrigo municipal também. É um senhor muito comunicativo. Mas para nós é um mistério que ele da rua não queira sair. Só aceita ajuda com alimentos. Enfim, hoje quis escrever para ele o texto acima. A foto abaixo não é dele mas, sim, da internet.
Um bom dia a todos! : )
Quantos Reis temos perdidos assim pelas nossas ruas....pessoas cheias de talento e sonhos incubados que peço a Deus um dia sejam realizados!
ResponderExcluirBjus e uma linda semana pra vc
paula
Sou rei de mim mesmo....
ResponderExcluirBjuxxxx
Olá!
ResponderExcluirO nosso Blog está apresentando um grande amigo e Poeta Português.
Gostaríamos de contar com a sua presença nessa postagem, pois estaremos sorteando um livro, entre aqueles que participarem.
Estamos esperando você!
Receba o nosso abraço carinhoso
...traigo
ResponderExcluirsangre
de
la
tarde
herida
en
la
mano
y
una
vela
de
mi
corazón
para
invitarte
y
darte
este
alma
que
viene
para
compartir
contigo
tu
bello
blog
con
un
ramillete
de
oro
y
claveles
dentro...
desde mis
HORAS ROTAS
Y AULA DE PAZ
TE SIGO TU BLOG
CON saludos de la luna al
reflejarse en el mar de la
poesía...
AFECTUOSAMENTE
SUZILEY
ESPERO SEAN DE VUESTRO AGRADO EL POST POETIZADO DE CACHORRO, FANTASMA DE LA OPERA, BLADE RUUNER Y CHOCOLATE.
José
Ramón...
Oi Suzi! Que prosa mais encantadora essa que você escreveu, minha querida! Pensou em ofertá-la ao "muso" inspirador? Grandioso em seu porte, mas frágil em sua decisão - a rua não é lugar para ninguém. É rito de passagem, é estrada para ser cruzada. Não deve ser interrompida. Fica, assim, esperando que alguém chegue, mas nunca pronto para ir embora. Meus pensamentos estarão a fazer companhia para o Sr. Almir nessa tarde fria de inverno! Um beijo, Deia.
ResponderExcluir...sempre estamos onde desejamos
ResponderExcluirestar.
o pensamento é o veículo.
bj, querida!
Suzi, que fantástico!
ResponderExcluirMenina adorei a história e as idéias com relação aos deuses da mitologia. Adoro mitologia, mas, adoro mais ainda esse paralelo!
Sr Almir deve ser um Rei, nós que ñ entendemos seu palácio!
bjs
Olá Suziley!
ResponderExcluirVenho aqui agradecer a visita, o comentário e desejar boa sorte no sorteio do meu livro. Beijo luso
Obrigada, Manu! Estou acompanhando o seu lindo blog e vou esperar pelo sorteio do seu livro. Seja bem-vindo!! Um grande abraço ;)
ResponderExcluirOi, Márcia Albuq:
ResponderExcluirÉ verdade, nós é que não entendemos mesmo a profunidade de um ser humano. Sr. Almir é uma figura. Que bom que gostou do texto e das ligações com a mitologia. Também gosto. Um grande beijo no seu coração :)
Oi, Vivian:
ResponderExcluirSim, o pensamento é veículo de muitas idéias. Com ele viajamos e estamos onde quisermos. E os sentimentos carregamos para onde estivermos também. Obrigada pela visita. Beijos no seu coração ;)
Oi, Deia:
ResponderExcluirPensei em imprimí-la e levá-la para o sr. Almir. Mas, vou melhor ponderar. Pois sei que ele esteve em tratamento lá no abrigo, segundo ele mesmo nos informou. Então, não quero causar nenhuma forte emoção que o faça sofrer. Nós, aqui, em casa, estávamos pensando em procurar a psicóloga/psiquiatra que o tratou para conhecere a sua história e saber o que podemos, de fato, fazer para ajudá-lo. Ele é conhecido de muitas pessoas, aqui, do bairro. Sempre recebe café, almoço e janta. Curativo do seu pé que está ferido também. Um vizinho que mora em frente da praça o faz. Para dormir, à noite, ele dorme num quarto de um posto de gasolina, aqui, próximo. Ou sempre que quer ele vai dormir no abrigo. Sempre o vemos quando passamos pela praça. E hoje senti vontade de escrever um pouquinho sobre ele. É assim que o percebo. Obrigada por seu carinho. Nós, aqui, vamos tentar saber mais sobre ele e o que pode ser feito. Ele está agasalhado. E, ontem e hoje, faz frio mas não tanto quanto nos dias anteriores. Um grande beijo no seu coração Deia!! :)
Oi, José Ramón, seja "bienvienido"!! Sim, faça como quiser. Postagem em poesia. Fique à vontade. Fico feliz que tenha gostado deste espaço. Estamos, aqui, para compartilhar. Obrigada. Um grande abraço ;)
ResponderExcluirOi, pessoal do Espaço Aberto:
ResponderExcluirJá passei por lá, já comentei e já passei pelo blog do poeta português Manu. Muito bom mesmo. Obrigada. Um grande abraço ;)
Ok, Rei Carlos I...hehe!! Mas, tem razão. Tenha uma boa noite. Um grande abraço ;)
ResponderExcluirObrigada Paula pela visita. De fato, temos muitos reis, muitos talentos pelas nossas ruas. Um grande beijo no seu coração ;)
ResponderExcluirAmiga!!! que belíssima leitura que vc ofereceu a todos hoje...é triste ver a realidade dessas pessoas que vivem na rua e que abandonam de certa forma seus sonhos...
ResponderExcluirGrande beijo e obrigada pelo carinhod e sempre!
Vivian
Oi, Vivian querida, obrigada pela visita e pela partilha. Um grande beijo no seu coração ;)
ResponderExcluirQuanta força resiste n'alma de Seu Almir...a mesma que desperta a sensibilidade de teu olhar, Suziley.
ResponderExcluirBelíssimo post. A verdade de outras vidas!
Dias quentes p/ todos aí.
Bjkas,
Calu
É verdade, Calu. Há algo especial no senhor Almir. Um vida que merece ser cuidada. Obrigada pela visita. Estou esperando que chegue logo a primavera por aqui. Hoje já fez um pouco de calor. Beijos prá você ;)
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