Balada de um louco...

Para quem não assistiu o filme Bicho de Sete Cabeças, vai a dica. Sobretudo, para aqueles que trabalham com a saúde mental. O dia 18 de maio, tornou-se data comemorativa de um processo de luta contra a política dos manicômios, dos chamados hospícios de outrora. A realidade das pessoas que, ali, eram "depositadas" era deveras humilhante. Causa de indignação para qualquer ser humano no seu perfeito juízo. Não somos profissionais da área da psicologia, da psiquiatria ou de qualquer outra área afim à saúde mental. Todavia, constatamos que muito mais do que o remédio, que é necessário para muitas pessoas que estão em tratamento, o mais potente, capaz de transformar as dores, a angústia, a depressão, a carência, a solidão, o vazio, os distúrbios, ainda, é o carinho, o amor e a família. Pessoas em tratamento precisam do suporte de seus familiares. Precisam de carinho, de atenção, de gestos amorosos. Precisam de dignidade. Recordo-me das sábias palavras que ouvi no filme sobre o Pe. Pio (um santo frade franciscano que mudou a realidade de muitas pessoas que foram mutiladas pela segunda guerra mundial na Itália). O franciscano construiu, no sul da Itália, um dos maiores hospitais para atendimento dos doentes por causa da guerra, a Casa do Alívio do Sofrimento. Assim ele dizia ao médicos que, ali, trabalhavam: "O remédio sem amor, pouco ao nada faz efeito. É preciso amar a quem se trata"!! E, aí, transportando para a data de hoje, Casas de Saúde, de tratamento, somente para aquelas pessoas que precisam, lá estar. Para eles tratamento digno, humano, efetivo. Para os outros que não necessitam de tal medida, que seja na família o seu refúgio, o seu porto seguro. Que se administre os remédios com amor e carinho por aqueles que os cuidam. Pois muitos, medicados, podem levar uma vida como qualquer pessoa dita "normal". Veja-se, também, o filme "Uma mente brilhante". O genial professor era um esquizofrênico típico. Mas, felizmente, com o suporte de sua esposa e ajuda de seus amigos, ele conseguiu conviver com suas limitações. Somente o amor é capaz de amenizar as dores e o sofrimento causados pelas deficiências. Lembre-se, também, do personagem esquizofrênico Tarso, vivido pelo ator Bruno na já passada novela "Caminho das Índias".  O preconceito, a discriminação, a rejeição existem e estão aí. Até mesmo da parte dos próprios familiares. Aliás, muitos, covardemente, abandonam à própria sorte, os seus entes que, aí, sim, tornam-se doentes a vagar pelas ruas, mendigando o pão ou simplesmente desligados do mundo que só lhe disseram NÃO. É muito triste. Triste vê-los pelas ruas. Vê-los sujos e mal tratados. Sem tratamento, sem lares. Aqui, em Porto Alegre, alguém já visitou o Hospital Psiquiátrico São Pedro?! No meu trabalho, as mulheres da limpeza são funcionárias de uma empresa terceirizada que também presta serviço naquele hospital e muitas delas (para não dizer a maioria) torçem para não serem mandadas para aquele local de trabalho. É uma realidade difícil mesmo. Muitas pessoas que, ali, estão (no São Pedro) não eram doentes quando foram "depositadas" por lá. Foram abandonadas por suas famílias. Assim, como o Neto, personagem do Rodrigo Santoro no filme "Bicho de Sete Cabeças". Enfim, é preciso uma política séria em prol da vida, em prol da saúde mental de todas as pessoas. Nenhum manicômio, nenhum hospício. Somente Casas de Saúde para aqueles que realmente precisem e que não tenham ninguém por eles. Casas semelhantes aos nossos próprios lares. Pois, como disse o santo Pe. Pio: "Onde há o doente, aí, encontra-se o Cristo. E onde há o doente pobre, aí, Ele encontra-se ainda mais". Afinal, ninguém mais do que o Cristo sofreu na própria carne o sofrimento do corpo e da alma, da maldade alheia, da rejeição, do egoísmo. Foi até chamado de "louco". Mas, na letra da música, com todos os ditos "loucos", repetimos: "Mas louco é quem me diz, eu sou feliz"!!