segunda-feira, 26 de abril de 2010

O retorno de Alice...



O clássico da literatura infantil, criado pelo escritor e matemático Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), em 1864/1865, sob seu pseudônimo Lewis Carrol, ganha nova forma e interpretação cinematográfica desde a sua primeira filmagem em 1903. Trata-se do conto inglês bem conhecido de todos nós, Alice no País das Maravilhas, que há muito pertence ao universo das estórias contadas e recontadas às crianças de várias gerações. “Tudo tem uma moral: é só encontrá-la” escreveu Lewis Carrol. Entender o que ele quis dizer e encontrar a sua própria lógica torna-se, de fato, um desafio ao enigma que foi a sua própria vida. A literatura de Carrol pertence ao gênero denominado nonsense. Expressão de origem inglesa que denota algo sem nexo. Bem apropriado ao mundo fantástico e surreal dos sonhos de Alice. Aliás, o sonho é assinalado por uma lógica do absurdo. E na primeira versão, Alice tem seus 11, 12 anos. E tudo naquele belo mundo que se lhe apresenta é para ela maravilhoso e fascinante. É a passagem da sua tranquila meninice para a inquietante adolescência. Com a estória que conhecíamos desde crianças, na cabeça, fomos assistir a nova Alice no País das Maravilhas de Tim Burton. Burton lança um novo olhar sobre a obra de Carrol. Ousa imaginar uma continuação, um retorno. E, aí, reside a sua criatividade. O diretor mesmo possuindo predileção pelo sombrio e aterrorizante, imprime ao filme, que tem a marca da Walt Disney, ares de uma vitalidade estética e transcendental. Trata-se, na essência, da mesma Alice, todavia, agora, já uma jovem que está saindo da conturbada adolescência a caminho da juventude. Órfã de pai, com sua mãe e uma irmã casada, é herdeira de um comerciante internacional. Com apenas 19 anos está prestes a ser pedida em casamento por um nobre de Oxford. Pressionada pela imposição da sociedade de sua época, Alice dá novamente asas à sua imaginação e sai correndo atrás do Coelho Branco. Precisa encontrar-se a si mesma. Tomar consciência de quem realmente é e o que quer para sua vida. Necessita posicionar-se perante o mundo dos adultos ao qual pertencerá. E assim, novamente, cai na toca e chega ao mundo subterrâneo. Tudo, ali, para ela é estranhamente “novo”. Todavia, os personagens são os mesmos. Bizarros e psicodélicos. O Coelho Branco, os Gêmeos Tweedle-Dee e Tweedle-Dum, o Gato esvoaçante, a Lebre de Março, o Chapeleiro Maluco, a Rainha de Copas, o Valete, a Lagarta, e outros. Ali, Alice descobre que depois que partiu, a Rainha de Copas destruiu o reino da Rainha Branca e subjuga a todos com tirania e crueldade. Somente o Chapeleiro Maluco reconhece na “nova” Alice a mesma menina que, ali, já estivera. Aliás, Alice reconhece que as melhores pessoas, muitas vezes, são os que, aparentemente, parecem “loucos”. Loucos porque fogem à regra pré-estabelecida para cada um dentro de uma sociedade dita “racional”. E a profecia dizia que somente Alice poderia enfrentar e derrotar o Dragão Jabberwocky e devolver o reinado à Rainha Branca. E assim foi. A jovem personagem consegue vencer o seu próprio medo e, finalmente, tomar nas mãos as rédeas do seu próprio destino. Encontra a sua resposta. Volta à realidade e recusa um casamento arranjado e sem amor. Enfrenta as críticas da sociedade. Adverte o seu cunhado infiel. Aconselha a sua tia senil a procurar ajuda médica. Empreende, juntamente, com seu ex-sogro/sócio, uma viagem dos negócios aos quais se dedicará. Parte para além do seu pequeno mundo. E, está lá, já transformada, a borboleta azul simbolizando uma nova vida. Um futuro promissor, livre e responsável. É o que acontece com cada um de nós. Não só na passagem da meninice. Da adolescência. Da fase adulta. Da velhice. Da morte que é transformação. Mas em todos os momentos. Em todos os instantes. Estamos sempre enfrentando os nossos medos, as nossas “Rainhas de Copas”. Mas, ao final, conseguimos ouvir a nossa própria essência, os nossos próprios “Chapeleiros Malucos”. Na lógica do absurdo, há alguma razão que, certamente, conseguimos encontrar quando, de fato, nos comprometemos em conhecermos a nós mesmos para, aí, sim, decidirmos ser felizes. Bela “roupagem”. Parabéns Tim Burton!






8 comentários:

  1. Suziley,

    Bela reflexão acerca do filne.
    Ontem "vencida" pelas filhas fui enfrentar fila para assistir Alice. Valeu a pena.

    Beijos ternurentos. Boa semana e muito obrigada pela presença frequente no "Poesia Cá e Lá". Uma honra muito grande.

    Clau Assi

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  2. Cara Suzi:
    Gostei muito do teu trabalho e das observações que procedestes sobre o filme de Burton. Realmente, a época em que o autor nos transportou, as moças não tinham outra opção senão os famosos casamentos arranjados. Moças e rapazes viviam isolados e suas ligações eram procedidas via mães e tias. Os casamentos, por sua vez, eram até entre parentes. Com prejuízos daí decorrentes. Não havia o ingrediente importante que era o conhecimento prévio entre os pares para que daí surgisse o amor e a vontade de se unirem. Voando para os dias de hoje, constatamos que as pessoas também não se conhecem. E os resultados também não são satisfatórios. Falta o diálogo entre pais e filhos. Tônica salutar para a relação futura de seus filhos, para que possam garantir um futuro feliz e auspicioso. Tendo como resultante uma união de pessoas, objetivamente, produtiva e amorosa. A pergunta que, aqui, faço neste momento, é o que teria acontecido com Alice ao deixar seus familiares e se dedicar a uma atividade comercial longínqua, que certamente iria comprometer os laços de família que são o sustentáculo de qualquer pessoa? Hoje, deixado de lado por muitos nossos amigos e conhecidos. Aonde, afinal, teria ido a borboleta azul, de vida efêmera para tão longe? Será que ela ficasse no habitat próximo beijando as flores, proporcionando a continuidade da espécie não teria sido melhor? Minhas felicitações. Beijos.
    Manoel Canto.

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  3. Bom dia, Clau:
    Que bom que gostou do filme. As suas filhas estavam certas...vale mesmo à pena. Com certeza, gosto, também, do belo espaço de Poesias Cá e Lá. Estou sempre por ali...hehe! Desejo-lhe um ótimo dia, uma ótima semana, beijos no seu coração, ;)

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  4. Bom dia, querido Canto:
    Agradeço a sua participação e a sua partilha. Formulas perguntas que creio que somente tu possas responder. Pois isso que é genial na nossa diversidade de percepção. Cada pessoa é única e como tal reage e age a um filme ou a qualquer evento de acordo com sua bagagem de experiências e conhecimentos. Certamente, a sua visão das coisas e do filme, guarda também um pouco de verdade. Mas não toda ela. Pois o diretor deixou em aberto (ou não) imaginarmos a continuação da referida estória. Família, pais e filhos são ligações eternas. Que não necessariamente abandonamos porque deixamos de viver juntos. Isso faz parte de nos autodeterminarmos. Fazemos as nossas escolhas. Todavia, nem sempre podemos realizar o que, de fato, queremos e sonhamos para nossas vidas. O importante é agirmos sempre com amor a nós próprios e ao próximo. Viu, quantas reflexões surgem de um filme?!! Beijos no seu coração meu querido, ;)

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  5. Adorei a crítica.
    O texto e seu??? Perfeito.
    Me deu vontade de parar tudo aqui e correr para o cinema! rsrsr!
    Ainda não tive tempo de ir assitir, mas a vontade é imensa.

    bjs
    Cintia

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  6. Oi, Cintia, sim, o texto é meu. Fico feliz que tenha gostado e quando puder vá, sim, assistir o filme. Vale à pena. Um beijão no seu coração, ;)

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  7. Depois desse texto me deu uma vontade de assistir o filme.

    beijooo.

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  8. Oi, Ana, bom dia:
    Assista, sim, pois irás gostar. Uma boa semana prá ti, beijos, ;)

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